Bruno Ottoni, pesquisador do IDados
Dados da PNADC referentes ao trimestre encerrado em junho de 2018 indicam que desalentados são em sua maioria mulheres (perfazendo 54,0%), adultos (perfazendo 53,2%), indivíduos que não se classificam como chefe de domicílio (perfazendo 69,9%) e pouco escolarizados (perfazendo 66,1%).
Estes números fazem sentido. As mulheres costumam participar menos do mercado de trabalho brasileiro e, portanto, deveriam ser uma maior proporção dos desalentados. Os chefes de domicílio são os provedores da família e, portanto, deveriam estar menos presentes na população desalentada. Finalmente, os indivíduos de baixa escolaridade têm maior dificuldade de ingressar, e de permanecer, no mercado de trabalho. Logo, faz sentido que estes indivíduos estejam mais presentes na população desalentada.
Houve grande aumento no número de desalentados entre o trimestre encerrado em junho de 2012 e o trimestre encerrado em junho de 2018, em virtude da severa crise econômica que assolou nosso país nos últimos anos. Mais precisamente, o número de desalentados passou de 1,9 milhões em junho de 2012 para 4,8 milhões em junho de 2018. Chama atenção a piora do perfil dos desalentados no referido período em virtude da crise econômica. Seguem alguns comentários:
– Diminuiu a proporção de mulheres no desalento (-7,2 p.p.). Este fato é preocupante, dado que indica que houve um aumento na proporção de homens no desalento. O aumento da proporção de homens no desalento tende a prejudicar a renda domiciliar, uma vez que eles auferem rendimentos maiores do que as mulheres.
– Aumentou levemente a proporção de adultos no desalento (+2,0 p.p.). Mesmo assim é um fato preocupante, visto que adultos estão em plena fase laboral e, portanto, deveriam estar sendo aproveitados no mercado de trabalho.
– Aumentou a proporção de chefes de domicílio no desalento (+4,5 p.p.). Este fato também preocupa, dado que os chefes de domicílio são os provedores da família. O afastamento dos chefes de domicílio do mercado de trabalho tende a representar uma piora na renda da família.
– Diminuiu a proporção de indivíduos com baixa escolaridade no desalento (-7,7 p.p.). Este fato também é preocupante, pois indica que houve aumento na proporção de indivíduos com alta escolaridade no desalento. O crescimento da proporção de indivíduos com elevada escolaridade no desalento não é um bom sinal, dado que são pessoas qualificadas que deveriam estar sendo aproveitadas no mercado de trabalho. Além disso, esses indivíduos, por serem mais qualificados, tendem a auferir maiores rendas no mercado de trabalho e, portanto, sua presença no desalento prejudica a renda familiar.