Características das pessoas que saíram do mercado de trabalho em função da crise da pandemia de covid-19

A crise da covid-19 parece ter motivado muitos trabalhadores a deixar o mercado de trabalho, e essa debandada parece ter sido “puxada” pela região Sudeste, pelos profissionais com filhos e pelos jovens e idosos.

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Neste post, analisamos os efeitos negativos da atual epidemia da covid-19 sobre a decisão de sair do mercado de trabalho. Para isso, começamos com um acompanhamento da evolução ao longo do tempo da taxa de participação, lembrando que uma queda abrupta desse indicador tende a sugerir saída forte de pessoas do mercado de trabalho. Essa análise inicial está baseada em dados trimestrais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao período compreendido entre o primeiro trimestre de 2012 e o mesmo período de 2020.

A Figura 1, abaixo, mostra que a taxa de participação apresentou uma queda abrupta entre o quarto trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020. A queda foi tão intensa que fez a taxa de participação chegar perto do menor patamar da série histórica da PNADC. O menor patamar da série histórica da PNADC ocorreu no quarto trimestre de 2014, quando a taxa de participação chegou a 60,87%. No primeiro trimestre de 2020, esse indicador chegou muito próximo do seu nível mais baixo, visto que atingiu o valor de 60,96%.

Essa queda forte da taxa de participação sugere que houve grande saída de pessoas do mercado de trabalho em função da crise causada pela covid-19. Isto porque a crise atingiu o mercado de trabalho brasileiro justamente no primeiro trimestre de 2020 (mais precisamente em março do referido ano). Note que este resultado de grande debandada do mercado de trabalho, em função da crise causada pela covid-19, faz sentido. Isto pode estar acontecendo porque muitos indivíduos perderam o emprego durante a crise da pandemia, mas optaram por não procurar um novo emprego, dado que a quantidade de vagas disponíveis tende a ser pequena durante esse período de depressão econômica causada pela covid-19. Neste cenário, a saída temporária do mercado de trabalho acaba figurando como única alternativa.

Feita essa análise mais agregada, procuramos então focar em alguns recortes selecionados para identificar quais as características dos profissionais que, em função da crise recente da covid-19, saíram do mercado de trabalho. Esta análise mais desagregada é feita a partir dos dados da PNADC referentes apenas ao primeiro trimestre dos seguintes dois anos: 2019 e 2020. O foco apenas no primeiro trimestre desses dois anos ajuda a controlar eventuais diferenças sazonais. Analisamos os seguintes recortes: (i) região, (ii) presença de filho e (iii) idade.

Fica evidente que a queda na taxa de participação no mercado de trabalho foi “puxada” (i) pela região Sudeste (Figura 2), (ii) pelos indivíduos com filhos (Figura 3) e (iii) pelos jovens e idosos (Figura 4).

O fato de a região Sudeste ter registrado a maior queda na taxa de participação faz sentido, dado que foi, até agora, o epicentro geográfico da epidemia da covid-19 em solo brasileiro. Neste caso, a taxa de participação caiu quase 1 ponto percentual.

Já a observação de que a queda na taxa de participação foi mais intensa entre os indivíduos com filhos também parece razoável, dado que muitas escolas fecharam durante a pandemia. Neste caso, a taxa de participação caiu em aproximadamente 1,8 pontos percentuais.

Do mesmo modo, parece fazer sentido que jovens e idosos apresentem maiores quedas na sua taxa de participação, comparativamente aos adultos. No caso dos jovens, a queda na taxa de participação, de 0,7 pontos percentuais, parece razoável porque esses indivíduos têm maior facilidade de aproveitar o período de crise para focar nos estudos. No caso dos idosos, a redução na taxa de participação, de quase 0,7 pontos percentuais, faz sentido porque pessoas dessa faixa etária costumam possuir renda de aposentadoria, fato que reduz a necessidade de procurar imediatamente por trabalho, logo após a perda de um emprego.

Em resumo, a crise da covid-19 parece ter motivado muitos trabalhadores a deixar o mercado de trabalho, e essa debandada parece ter sido “puxada”: (i) pela região Sudeste, (ii) pelos profissionais com filhos e (iii) pelos jovens e idosos.

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