Os dados mais recentes de emprego divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) seguem com sinais de aumento gradual no número de desocupados e de forte recuo na taxa de participação. O desemprego medido pela PNADC registrou o nível de 13,3% em junho, contra 12,9% em maio. Quanto à taxa de participação, houve queda de 56,8% para 55,3% entre maio e junho. Este número era de 61,7% em janeiro.
Os dados de junho da PNADC demonstram, mais uma vez, a lenta resposta do desemprego à queda de atividade durante a crise da covid-19. O programa governamental de Auxílio Emergencial, que totalizou mais de 66,5 milhões de concessões de benefício a trabalhadores informais, se encontra entre os fatores que vêm impedindo um maior aumento do desemprego.
Outra pesquisa similar de mercado de trabalho, a PNAD Covid-19, também vem apresentando sinais de aumento gradual do desemprego. O desemprego medido pela PNAD-Covid19 alcançou o patamar de 13,1% na primeira semana de julho (5 a 11 de julho). Trata-se de uma alta de 0,7 pontos percentuais em relação ao desemprego da primeira semana de junho (12,4% em 7 a 13 de junho), como podemos notar no gráfico 1.
O saldo de emprego formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) registrou o patamar de perdas líquidas de -10.984 vagas em junho. Trata-se de um resultado acima do esperado por analistas. Entre os fatores que podem ter contribuído para demissões abaixo do esperado está o programa governamental de subsídios a contratos de trabalho, o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm).
O programa, que visa inibir demissões ao oferecer ao empregador a opção de suspensão do pagamento de salários e de redução da jornada de trabalho, vem exercendo um impacto significativo sobre o mercado de trabalho em termos de adesão de contratos de trabalho. Desde o início de sua implementação, em abril, o total de trabalhadores que aderiram ao programa vem registrando aumentos sucessivos (gráfico 2), totalizando cerca de 14 milhões de contratos preservados no final de julho – ou 31,4% do estoque de contratos de empregos formais1. Apesar dos efeitos do BEm sobre a atenuação das demissões, o saldo CAGED no acumulado de janeiro a junho/2020 apresenta dados muito negativos, registrando mais de -1,198 milhão de vagas perdidas.
Para o segundo semestre de 2020, esperamos que o mercado de trabalho formal siga com o fraco desempenho observado no 2º trimestre. Esperamos, porém, que a situação do emprego formal se deteriore mais fortemente nos meses finais do 4º trimestre. Este período corresponderá ao fim do prazo de carência dos contratos de trabalho aderidos ao BEm e à retirada dos subsídios do governo. Empresas, que ainda enfrentarão problemas
de fluxo de caixa devido à atividade fraca no 2º semestre, poderão ter dificuldades em manter a sua folha de pagamento em dia com a retirada dos subsídios, e se verem obrigadas à demissão de trabalhadores no final do ano. Considerando este cenário, esperamos um saldo acumulado negativo de CAGED de -2,08 milhões para o ano de 2020 (Tabela 1).
Quanto ao desemprego PNADC, esperamos uma forte aceleração do total de desocupados no 2º semestre, ocasionada pela redução no número de concessões de auxílio emergencial, prevista para ocorrer a partir de outubro. Esta redução pode ser preocupante do ponto de vista do desemprego, uma vez que poderá impactar negativamente no rendimento das famílias. À medida em que famílias tiverem queda nos rendimentos, pessoas inativas tendem a regressar ao mercado de trabalho à procura de emprego, o que pode pressionar o desemprego e levá-lo a atingir um recorde entre o trimestre encerrado em outubro e aquele encerrado em dezembro de 2020. Segundo nossa projeção, o desemprego deve alcançar 14,1% no trimestre encerrado em dezembro de 2020.
- Estoque correspondente ao total de vínculos ativos formais em 31/12/2019