Qualidade do emprego nas Unidades da Federação do Brasil

Quais são os estados brasileiros com maior percentual de trabalhadores em empregos de baixa qualidade?

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A qualidade do emprego tem sido entendida cada vez mais como uma questão multidimensional. Isso significa dizer que, para conseguir medir adequadamente a qualidade de um determinado emprego, não basta focar em um único aspecto, como salário, por exemplo, mas em diversas características da ocupação (para maiores informações ver BID 2017, OCDE 2014 e OIT 2013). Nesse contexto, inúmeros artigos já desenvolveram “índices de qualidade de emprego”, com o objetivo de resumir os diferentes atributos de cada ocupação em apenas um único número (alguns exemplos são Gomez-Salcedo et al 2017, Huneeus et al 2015 e Ortega 2013).

Com base em Sehnbruch (2020), este post calcula um índice de qualidade de emprego tanto para o Brasil como um todo quanto para as Unidades da Federação do país separadamente: 26 estados mais o Distrito Federal. Os dados mais recentes que permitem realizar esses cálculos de qualidade do emprego são os da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao segundo trimestre de 2017.

O índice adotado aqui é baseado em quatro dimensões distintas do emprego, que são: (i) o salário, (ii) a estabilidade, (iii) a rede de proteção e (iv) as condições de trabalho. Se o salário é determinado como insuficiente (com base em um critério que não será discutido aqui), então o emprego recebe nota igual a 1 no que tange a essa dimensão. Caso o salário seja entendido como adequado, o índice recebe nota igual a 0 para essa dimensão. O mesmo é feito para as demais dimensões, sendo que notas iguais a 1 sempre indicam insuficiência (novamente: não cabe discutir aqui esses critérios).

Finalmente, o índice de qualidade de emprego é calculado para cada indivíduo com base em uma média simples das quatro dimensões mencionadas no parágrafo acima. Note, assim, que o índice pode variar de 0 a 1. Por um lado, esse índice será igual a 1 para um indivíduo cujo emprego é classificado como sendo insuficiente em todas as quatro dimensões. Por outro lado, o índice em questão será igual a 0 para um indivíduo cujo emprego não é classificado como sendo insuficiente em nenhuma dimensão. Seguindo essa lógica, caso para um determinado trabalhador o índice seja maior ou igual a 0,5, então o emprego dele é classificado como sendo de baixa qualidade. A partir desse número, é possível determinar a proporção de trabalhadores ocupados em empregos de baixa qualidade. É exatamente esse o cálculo realizado aqui.

A partir do índice, é possível estimar que 45,5% dos trabalhadores brasileiros se encontram em empregos de baixa qualidade. A Figura 1 apresenta, separadamente por Unidade da Federação (UF), a proporção de trabalhadores que estão em empregos de baixa qualidade. A UF que está em pior situação, no que tange à qualidade do emprego, é o estado do Ceará, com 52,0% dos trabalhadores em empregos de baixa qualidade. Já a UF na melhor situação é o Distrito Federal, onde 36,1% dos trabalhadores estão empregos de baixa qualidade.

Referências:

. BID. (2017). “Índice de Melhores Trabalhos: Índice de Condições Laborais na América Latina”.

. Gomez-Salcedo et al. (2017). “Qualidade do Emprego na Colômbia: Um Indicador Multidimensional Difuso”. Social Indicators Research.

. Huneeus et al. (2015). “Um Índice Multidimensional de Qualidade de Emprego para o Brasil, 2002-2011”. International Labor Review.

. OCDE. (2014). “Perspectivas de Emprego”.

. OIT. (2013). “Indicadores de Trabalho Decente: Um Guia para Produtores e Consumidores de Indicadores Estatísticos e Legais”.

. Ortega. (2013). “Definindo um Índice Multidimensional de Trabalho Decente para o México”. Mexican Journal of Economics and Finance.

. Sehnbruch. (2020). Uma Abordagem Multidimensional para Medir a Qualidade do Emprego de Seis Países da América Central. IZA.

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