Os últimos números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid19 (PNAD Covid19), apontam para um expressivo aumento do desemprego entre maio e junho de 2020. A pesquisa revela que o desemprego saiu de 10,70%, em maio, e chegou a 12,40%, em junho. Logo, a PNAD Covid19 aponta para um aumento abrupto de 1,70 pontos percentuais na taxa de desemprego em um curto espaço de tempo.
Parece estranho observar um aumento do desemprego em junho, dado que a economia brasileira começou a passar por um processo de reabertura justamente naquele mês. Mas, na verdade, analistas já esperavam esse tipo de comportamento, porque o IBGE só classifica como desempregado o indivíduo que procura por trabalho. A reabertura da economia em junho acabou por motivar os indivíduos que perderam emprego em meses anteriores, como abril e maio, a voltar a procurar por trabalho. Foi justamente essa volta da procura por trabalho que resultou no aumento do desemprego observado em junho.
Feita essa análise mais agregada, procuramos então focar em alguns recortes selecionados para identificar quais as características dos indivíduos que voltaram a procurar emprego em junho e que, por isso, acabaram ajudando a elevar a taxa de desemprego. Nesta análise mais desagregada, são selecionados os seguintes recortes: (i) idade, (ii) renda e (iii) cor de pele.
A Tabela 1 apresenta a variação da taxa de desemprego entre maio e junho para diferentes idades. Fica evidente que o aumento do desemprego foi puxado pelos grupos mais jovens. Especificamente, o crescimento mais expressivo aconteceu entre os indivíduos com até 29 anos. Nesse grupo, houve um aumento de +2,60 pontos percentuais (p.p.) na taxa de desemprego, visto que ela passou de 17,85%, em maio, para 20,45%, em junho. Esse dado faz sentido, já que os jovens têm menos risco de enfrentar complicações de saúde em caso de contaminação por covid-19. Assim, parece razoável observar que esse grupo etário fique mais disposto a voltar a procurar por trabalho após a reabertura da economia.
A Tabela 2 mostra a variação da taxa de desemprego entre maio e junho por renda (mais especificamente, a variável utilizada é a renda domiciliar per capita). São consideradas as seguintes faixas de renda: (i) 50% mais pobres e (ii) 50% mais ricos. A referida tabela deixa claro que o desemprego foi “puxado” pelos residentes em domicílios com renda entre os 50% mais pobres. Houve, nesse caso, um aumento forte de +3,78 p.p. na taxa de desemprego. Esse dado também faz sentido, já que os indivíduos de famílias mais pobres provavelmente possuem menos poupança e, por isso, acabam sendo obrigados a voltar a buscar trabalho assim que o isolamento começa a ser flexibilizado.
A Tabela 3 contém a variação da taxa de desemprego entre maio e junho por cor de pele. Fica claro que o desemprego foi “puxado” pelos negros. Especificamente, no caso desse grupo, houve um aumento considerável de +2,04 p.p. na taxa de desemprego. Esse dado faz sentido, já que negros são, geralmente, mais pobres e, portanto, acabam sendo pressionados para voltar a procurar trabalho logo que a economia começa a voltar a funcionar.
Em resumo, vimos que os últimos dados da PNAD Covid19 revelam um grande aumento da taxa de desemprego entre maio e junho de 2020. Esse aumento foi consequência da reabertura da economia, que motivou os desempregados a voltar a procurar por trabalho. Ademais, constatamos que o aumento do desemprego foi “puxado” pelos indivíduos: (i) jovens, (ii) pobres e (iii) negros.