Proporção de trabalhadores com ensino superior que atuam em cargos de nível médio ou fundamental cresce mais entre homens negros e mulheres negras

Quase 38% dos homens negros e 33,2% das mulheres negras com diploma de ensino superior trabalhavam em cargos que não exigiam este diploma no primeiro trimestre de 2020.

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trabalhadores com ensino superior

Alguns posts deste blog já trataram do contingente de trabalhadores com ensino superior completo que trabalham em cargos de nível médio ou fundamental, denominados sobre-educados. Neste post, baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD Contínua), avaliamos a variação do número trabalhadores sobre-educados de 2015 até o primeiro trimestre de 2020 comparando os contingentes e percentuais de homens brancos, homens negros, mulheres brancas e mulheres negras.

A tabela 1 (abaixo) contém informações do número de trabalhadores com ensino superior em cargos de menor exigência educacional em 2015 e 2020 para os quatro grupos de cor de pele e sexo. Selecionamos dados do primeiro trimestre de 2015 e 2020, não cobrindo, portanto, o período da pandemia.

Cabe destacar a prevalência de indivíduos brancos dentre os ocupados com ensino superior em ambos os períodos (colunas 1 e 2). Dentre os homens, em 2015, o contingente de trabalhadores brancos com ensino superior é de cerca de 4,5 milhões, enquanto o número de negros com as mesmas características de educação e ocupação é de apenas 1,7 milhões. De modo semelhante, as mulheres brancas formavam um contingente de 5,6 milhões, enquanto as mulheres negras respondiam por apenas 2,5 milhões.

Em 2020, observamos um aumento no total de trabalhadores com ensino superior ocupados em todos os grupos de cor e gênero, em consonância com as políticas de ampliação do acesso ao ensino superior nos últimos anos.

Nas colunas 3 e 4 da tabela 1, apresentamos dados dos trabalhadores que possuíam um diploma de ensino superior e estavam em cargos de menor requerimento educacional (nível médio e fundamental). Para todos os grupos, o contingente de sobre-educados aumentou – uma possível consequência da maior oferta de trabalhadores com diploma de ensino superior atuando em um mercado de trabalho com escassez de demanda por mão de obra mais qualificada.

Avaliando a variação no tamanho relativo de cada grupo, é possível apontar o maior aumento na representação de indivíduos negros dentre os sobre-educados. Por exemplo, em 2015, 1,2 milhões de homens brancos estavam em cargos de menor requerimento educacional, compreendendo 33% dos sobre-educados (3,9 milhões conforme a última linha da tabela 1).

Já em 2020, 1,6 milhões de homens brancos estavam nestes cargos de baixo requisito educacional. Uma vez que outros grupos tiveram maior crescimento relativo, o maior contingente de homens brancos passou a representar 30% dos sobre-educados, uma queda de 3 pontos percentuais no tamanho desta categoria em relação ao total.

Por outro lado, enquanto em 2015, 0,5 milhão de homens negros (14% do total) eram sobre-educados, em 2020 este contingente chegou a 1 milhão, aumentando o peso relativo deste grupo em 4 pontos percentuais (18% do total de sobre-educados). Estes apontamentos se repetem entre as mulheres no período 2015-2020: o aumento de 1,4 milhões para 1,9 milhões de mulheres brancas é relativamente menor do que o observado entre as mulheres negras: de 0,7 milhões em 2015 para 1,3 milhões em 2020. Como resultado, a proporção relativa ao contingente de mulheres negras apresentou crescimento em face do total, enquanto o grupo de mulheres brancas tornou-se proporcionalmente menor.

Por fim, a tabela 1 explicita nas colunas 5 e 6 o percentual de indivíduos com diploma superior em cargos que não requeriam tal formação. Para todos os grupos de cor de pele e gênero, houve crescimento do percentual de sobre-educados. Entretanto, maiores incrementos foram observados para indivíduos negros. Notadamente, homens e mulheres brancos tiveram crescimentos de, aproximadamente 2,5 e 3 pontos percentuais, respectivamente, enquanto homens negros apresentaram um crescimento aproximado de 4 pontos percentuais, e mulheres negras, de 6 pontos percentuais. Como resultado, os percentuais de sobre-educados em 2020, reportados na coluna 6, revelam a maior prevalência deste fenômeno para negros: quase 38% dos homens negros e 33,2% das mulheres negras com diploma de ensino superior trabalhavam em cargos que não exigiam este diploma.

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