A desaceleração econômica em virtude da pandemia de covid-19 implicou a piora de vários indicadores do mercado de trabalho. Este post analisa a evolução da subutilização da força de trabalho e o perfil dos trabalhadores subutilizados. Para investigar os impactos da pandemia, compararemos os dados entre o último trimestre de 2019 e o mesmo período de 2020.
A subutilização da força de trabalho é um indicador mais amplo do que a desocupação. Além dos trabalhadores não ocupados, a subutilização também inclui: trabalhadores subocupados por insuficiência de horas (trabalham menos horas do que poderiam); desalentados (indivíduos com disponibilidade para trabalhar, mas deixaram de procurar trabalho); e os chamados “indisponíveis” (indivíduos que buscaram trabalho, mas não estavam disponíveis para trabalhar na semana de referência). Os desalentados e indisponíveis compõem o que chamamos de “força de trabalho potencial”.
Na última coluna da tabela 1, abaixo, comparamos o contingente de subutilizados entre o quarto trimestre de 2019 e 2020. Neste período, houve um aumento de aproximadamente 6 milhões de brasileiros entre os subutilizados, o que corresponde a um crescimento de 22,5%.
Ainda na tabela 1, as mudanças na composição dos subutilizados podem ser observadas nas colunas 1 a 3. Nota-se, na coluna 1, uma estabilidade no número de trabalhadores subocupados por insuficiência de horas. Já nas colunas 2 e 3, observamos um aumento no número de desocupados (2,3 milhões) e, principalmente, de trabalhadores na força de trabalho potencial (4,4 milhões). Esses dois grupos foram responsáveis pelo aumento do contingente de subutilizados entre 2019 e 2020.
Para investigar as possíveis mudanças no perfil dos subutilizados, avaliamos as características de escolaridade, idade, cor de pele, gênero e chefia domiciliar. Na tabela 2, exibimos essas informações para o último trimestre de 2019 e 2020.
Observa-se, na tabela 2, a ampliação da média de anos de estudo entre os subutilizados. De modo análogo, verificamos o aumento da idade média dos trabalhadores subutilizados. Esses aumentos podem parecer pequenos, mas é importante lembrar que os 6 milhões de subutilizados a mais no final de 2020 representam uma proporção de apenas cerca de 19% do total de 32 milhões de subutilizados naquele momento. Logo, os dados indicam que trabalhadores mais qualificados e experientes passaram a sofrer com a desocupação, a subocupação por insuficiência de horas e a figurar na força de trabalho potencial.
A ampliação da proporção de chefes de domicílio e da proporção de brancos parece refletir as mesmas mudanças no perfil dos subutilizados apontadas anteriormente, uma vez que trabalhadores com este perfil são maioria dentre os trabalhadores mais qualificados.