Empregos informais e Serviços Tradicionais puxam retomada do mercado de trabalho

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Na terça-feira, 26/10, foi divulgado pelo Ministério do Trabalho o saldo de emprego formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do mês de setembro. O saldo do mês apontou uma forte recuperação do emprego formal, com geração líquida de 313 mil vagas. Este número de setembro corresponde exatamente à projeção de saldo CAGED feita pela consultoria IDados para o mês. Contribuiu para este aumento do emprego formal a forte retomada de empregos ligados a Indústria de Transformação (+72,8 mil) e a serviços como Comércio (60,8 mil) e Alojamento e Alimentação (+31,7 mil).

Já no dia seguinte, 27/10, foi divulgada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) correspondente a agosto. A pesquisa revelou que o desemprego alcançou o patamar de 13,2% no trimestre móvel encerrado em agosto (contra 13,4% no trimestre móvel encerrado em julho). O resultado pode ser visto como positivo, já que se situou abaixo da expectativa mediana de analistas (13,5%) e das projeções da consultoria IDados (13,4%). O dado da PNADC também se mostrou positivo para a taxa de participação, que vem registrando contínuo aumento desde o 2º trimestre deste ano, e alcançou o nível de 58,6% no trimestre encerrado em agosto. Este nível, entretanto, ainda se situa muito abaixo do observado no pré-pandemia (61,7%, no trimestre encerrado em janeiro de 2020). Os números da PNADC também revelaram um forte crescimento de 4,0% na População Ocupada (PO), na variação do trimestre móvel terminado em agosto em relação ao trimestre móvel encerrado em maio.

Contudo, podemos notar que este forte crescimento da PO vem sendo puxado sobretudo por empregos de baixa qualidade. Como vemos no gráfico 1, os vínculos de trabalho informais têm apresentado uma forte recuperação nos últimos meses e contribuíram com 3,1 pontos percentuais do crescimento de 4,0% da PO Total na passagem do trimestre móvel encerrado em maio para o trimestre móvel encerrado em agosto. Nesse período, grande parte deste crescimento da PO Total também pode ser atribuída à recuperação de setores urbanos intensivos em mão-de-obra de baixa escolaridade e rendimento, tais como Serviços Tradicionais[1], como podemos notar no gráfico 2. Mais precisamente, este setor respondeu por 2,9 pontos percentuais do crescimento da PO Total no período em questão.

Apesar da forte recuperação desde o 2º trimestre deste ano, o setor de Serviços Tradicionais foi o mais negativamente afetado pela pandemia e se encontra ainda distante dos níveis pré-crise, como podemos notar no gráfico 3. O forte resultado negativo de Serviços Tradicionais, ao longo da pandemia, contrasta com o desempenho do setor de Serviços Modernos[2].

Esperamos para o 4º trimestre de 2021 que o emprego siga em recuperação, com o aumento de contratações temporárias para a indústria e comércio, em função das festas de fim de ano. Com isso, estimamos que o desemprego siga em queda para até 12,0% no trimestre encerrado em dezembro deste ano. Também esperamos que o ritmo de entrada de trabalhadores à PEA permaneça elevado, podendo a taxa de participação alcançar o nível de 61% no trimestre que termina em dezembro de 2021.

Para o ano de 2022, reiteramos um quadro de elevadas incertezas tanto no campo inflacionário quanto no quadro político-eleitoral, que poderão levar a um nível mais elevado de juros e a uma redução do nível de atividade e emprego, comprometendo a trajetória de recuperação do mercado de trabalho.

Como podemos notar na Tabela 1, as expectativas de juros coletadas pelo Boletim Focus para 2022 variam, indo desde o cenário mais otimista (7,5% a.a) até o mais pessimista (12,8% a.a). Dependendo da concretização de cada um destes cenários de juros, o nível de atividade e emprego poderá variar, indo desde o crescimento de 3,3% do PIB e nível de desemprego de 11,9%, no cenário otimista, até a queda de 0,5% do PIB e nível de desemprego em 13,2%, no cenário mais pessimista.

[1]Os Serviços Tradicionais compreendem os seguintes setores classificados na PNADC: i) Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas; ii) Transporte, armazenagem e correio; iii) Alojamento e alimentação; iv) Outros Serviços; v) Serviços domésticos.

[2] Os Serviços Modernos compreendem os seguintes setores classificados na PNADC: i) Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas; ii) Administração pública, defesa e seguridade social; iii) Educação, saúde humana e serviços sociais.

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