Recuperação do mercado de trabalho perde fôlego

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Por Bruno Ottoni, pesquisador do IDados

Taxa de desemprego dessazonalizada, que apresentou queda entre junho de 2017 e janeiro de 2018, passou a ficar praticamente estagnada a partir de fevereiro de 2018, indicando uma retomada mais lenta do mercado de trabalho nos últimos meses. O resultado, que ficou em 12,7%, poderia ser encarado com certo grau de otimismo, dado que representa uma queda frente ao desemprego de 12,9%, observado no trimestre imediatamente anterior, terminado em abril de 2018 (Gráfico 1). Além disso, o resultado poderia ser visto de forma positiva por representar uma queda de 0,6p.p., com relação desemprego de 13,3%, observado no mesmo trimestre do ano anterior, encerrado em maio de 2017 (Gráfico 1).

Gráfico 1

Elaboração: IDados / Fonte: PNADC (IBGE)
Elaboração: IDados / Fonte: PNADC (IBGE)

No entanto, o resultado de maio de 2018 trouxe, na verdade, maior pessimismo com relação às perspectivas para a evolução do desemprego nos próximos meses. Uma análise da evolução recente da taxa de desemprego dessazonalizada, apresentada no Gráfico 2 abaixo, ajuda a ilustrar porque os analistas de mercado têm encarado o último resultado divulgado pelo IBGE com certo grau de pessimismo.

O desemprego apresenta grande flutuação ao longo de cada ano. Mas, uma parcela relevante desta flutuação ocorre por fatores sazonais. Por exemplo, o desemprego tende a diminuir no final de todo ano em função das contratações temporárias para atender a demanda mais aquecida no período de festas. Alternativamente, o desemprego costuma aumentar no início de cada ano como resultado das demissões dos indivíduos contratados temporariamente para atender a demanda mais aquecida durante as festas.

A taxa de desemprego dessazonalizada tem a vantagem de eliminar toda a flutuação que está em linha com o comportamento típico de cada período do ano. Portanto, uma queda da taxa de desemprego dessazonalizada indica um aquecimento do mercado de trabalho mais forte do que seria normalmente observado em um dado momento do ano. Contrariamente, um aumento da taxa de desemprego dessazonalizada aponta para uma desaceleração do mercado de trabalho mais expressiva do que ocorreria tipicamente em um determinado período do ano.

Diante da exposição feita no parágrafo anterior, fica claro que a evolução recente da taxa de desemprego dessazonalizada, apresentada no Gráfico 2, aponta para uma perda de fôlego na recuperação do mercado de trabalho. Mais precisamente, a taxa de desemprego dessazonalizada, que apresentou queda entre junho de 2017 e janeiro de 2018 (sugerindo uma recuperação mais forte do que seria tipicamente observada naquele período), passou a ficar praticamente estagnada a partir de fevereiro de 2018 (indicando uma retomada mais lenta do mercado de trabalho nos últimos meses, dado que mais recentemente a recuperação começou a ocorrer em linha com o comportamento sazonal).

Gráfico 2

Elaboração: IDados / Fonte: PNADC (IBGE)
Elaboração: IDados / Fonte: PNADC (IBGE)

Resta saber como será o comportamento da taxa de desemprego dessazonalizada nos próximos meses. Infelizmente, inúmeros fatores recentes sugerem que o mercado de trabalho seguirá, no restante deste ano de 2018, em uma trajetória de recuperação lenta, como já tem ocorrido nos últimos meses. Dentre os fatores que atuam na direção de maior pessimismo com o mercado de trabalho nos próximos meses podem ser destacados: (i) projeções de crescimento menos intenso para a atividade econômica nacional, (ii) incertezas quanto ao cenário eleitoral brasileiro e (iii) expectativas de um cenário externo mais desafiador.

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