Um dos poucos consensos em educação é a importância dos professores na formação dos alunos. É por essa razão que o setor público deveria buscar os melhores de cada geração para constituir o quadro docente. Isso inclui não apenas o nível de conhecimento e a habilidade de ensino, mas também outras características, como senso crítico e percepção da realidade. Este post discorre sobre esse assunto a partir dos dados.
A figura abaixo foi elaborada a partir dos dados do Saeb 2017 para o 3º ano do ensino médio. Ela combina informações de desempenho dos alunos na prova de matemática (eixo vertical) com informações de expectativas dos professores a respeito do número de alunos que eles acham que entrarão na universidade (eixo horizontal). Para responder a pergunta, há quatro opções: poucos alunos, um pouco menos da metade, um pouco mais da metade e quase todos os alunos. A figura mostra a porcentagem de professores que respondeu cada opção.
O que se observa é um descasamento entre expectativa e realidade por parte dos professores da rede pública estadual. Cerca de 10% dos professores acham que muitos de seus alunos seguirão para a universidade, mas a nota média dos alunos desses professores é de 280 pontos, nota suficiente para atingir apenas o nível 3 (de 10) da escala de proficiência do Saeb para alunos do 3º ano do ensino médio. Já para 30% dos professores, mais da metade dos alunos entrarão na universidade, mas a média dos alunos desses professores é de apenas 270 pontos. Juntando as duas porcentagens, 40% dos professores acham que mais da metade de seus alunos irão para a universidade, algo bem distante da realidade.
No setor privado, o cenário é mais realista. Dois em cada três professores acham que muitos de seus alunos irão ingressar na universidade, e a média dos alunos é de 343 pontos. Apenas 1% dos professores da rede privada acham que poucos de seus alunos seguirão para a universidade, sendo que a nota média desses alunos é de 294, acima, portanto, da média observada para alunos da rede pública, cujos professores acham que muitos entrarão na universidade. Ainda assim, 343 não é uma pontuação elevada para padrões internacionais – o fato de a concorrência ser baixa facilita.
Além da questão da qualidade do professor analisada em posts anteriores (leia aqui e aqui), a distância entre expectativa dos professores e realidade é mais um sinal de que algo está errado e precisa mudar.