Por Guilherme Hirata, pesquisador do IDados
Este post, quinto de uma série, compara a remuneração de professores com outros profissionais de nível superior nos setores público e privado. Os dados foram extraídos da RAIS 2016 e se referem apenas a trabalhadores com nível superior completo. Dentre as diversas informações interessantes que podem ser extraídas na figura abaixo, destacamos e analisamos duas delas.
A primeira é que os professores do ensino fundamental e médio do setor público recebem menos por hora do que outros concursados de nível superior. Do ponto de vista da oferta e demanda de trabalhadores, isso seria justificável se os indivíduos que se tornam professores fossem menos produtivos que os indivíduos que ingressaram em outras carreiras no setor público.
No entanto, ainda que esse seja o caso, a diferença de ganho é considerável, mesmo e principalmente quando comparada a ocupações na área de humanas: o valor mediano nesta última é mais do que o dobro da observada para professores.
A segunda informação que se destaca é a discrepância entre setores público e privado. Este parece seguir a lógica de mercado. Por exemplo: ensinar no ensino médio requer mais conhecimento que no ensino fundamental, o que aumenta o salário. No setor público, praticamente não há diferenças. Da mesma forma, ex-alunos de exatas são mais visados pelas empresas privadas por terem habilidades mais valorizadas. No setor público, o rendimento-hora desse grupo é menor que o de humanas.
Juntando as evidências, parece haver duas distorções causadas pelo setor público, uma intra-setor e outra entre setores. Isto é, há um prêmio salarial em algumas carreiras no setor público que resultam em diferenças inexplicáveis do ponto de vista da teoria econômica tanto com relação aos professores do setor público, quanto na comparação com as mesmas ocupações no setor privado. Isso geralmente ocorre quando grupos de interesse capturam a coisa pública e a utilizam para obter benefícios privados. Como os recursos são escassos, grupos menos organizados acabam preteridos. Não existe almoço grátis. No longo prazo, todos perdemos.
Rendimento-hora mediano em R$ – por grupo de ocupações e setor – 2016
Fonte: RAIS 2016. Elaboração: IDados.