Crise da pandemia ainda mantém 6,1 milhões de trabalhadores fora da força de trabalho

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Os últimos dados de emprego formal recentemente divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) revelam novas surpresas para o mercado de trabalho brasileiro. O saldo CAGED de março registrou geração líquida de 188 mil vagas, surpreendendo novamente analistas. De acordo com os dados de emprego divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), no trimestre móvel encerrado em fevereiro a taxa de desemprego foi de 14,4%. Trata-se de um leve aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao trimestre móvel encerrado em janeiro. Quando considerada a série mensalizada do desemprego, houve um forte aumento de 14,4% para 14,8% entre janeiro e fevereiro. Esta elevação do desemprego é explicada em parte pelas tendências sazonais de início de ano, bem como pela desaceleração dos indicadores de confiança e da atividade econômica decorrente do agravamento de casos da pandemia.

Os resultados mensalizados do desemprego de fevereiro também comprovam, contrariamente ao esperado, o baixo fluxo de retorno dos trabalhadores à força de trabalho. Como vemos no gráfico 1, a taxa de participação mensalizada, que se encontra em fevereiro muito abaixo do nível pré-crise (61,5% em fevereiro de 2020), vem permanecendo estagnada desde outubro de 2020. Esta estagnação na participação ocorre mesmo diante de um quadro de ausência de pagamentos do auxílio emergencial no 1º trimestre, o que revela grandes desafios para a projeção dos indicadores de mercado de trabalho brasileiro em um cenário de forte piora da pandemia.

Em meio a este cenário de fortes incertezas, podemos considerar que a trajetória do desemprego para 2021 será ditada pelo ritmo de retorno dos trabalhadores à força de trabalho medida pela População Economicamente Ativa (PEA). Na Tabela 1, podemos notar que o nível de PEA ainda se encontra distante do nível pré-pandemia, ao apresentar, em dezembro de 2020, um nível 6,1 milhões abaixo do observado em dezembro de 2019. Esperamos que esse contingente reprimido de trabalhadores mantidos fora da PEA venha a retornar gradativamente ao mercado de trabalho entre o 2º e 4º trimestre. Porém, a dinâmica desse retorno será de um tipo entre o 2º e o 3º trimestre, e de outro tipo entre o 3º e o 4º trimestre.

Entre o 2º e o 3º trimestre, acreditamos que os trabalhadores recém-ingressos na PEA (aumento de 1,6 milhões da PEA entre março e setembro de 2021) não conseguirão ser inteiramente recolocados na População Ocupada (aumento de 600 mil entre março e setembro de 2021). Estas dificuldades de realocação dos trabalhadores na População Ocupada (PO) ocorrerão em meio ao fraco desempenho da atividade no período, associado a fortes incertezas com a pandemia, e terminarão por levar a um pico de desemprego em setembro (15,5%). Já na passagem do 3º para o 4º trimestre, diante de um ambiente de maior otimismo e confiança da atividade com a disseminação da vacinação, prevista para beneficiar todo o grupo prioritário até setembro, combinada com as sazonalidades de fim de ano, esperamos um forte crescimento de 4,4 milhões da PO. Este forte crescimento da PO levará a uma queda do desemprego no final do ano. Mais precisamente, esperamos que o desemprego caia de 15,5%, no 3º trimestre, para 14,6%, no 4º trimestre.

Em resumo, em função do avanço lento da vacinação, que só conseguirá beneficiar todo o grupo prioritário em setembro de 2021, acreditamos que o desemprego continuará subindo até o 3º trimestre desse ano, em meio a um cenário de fortes incertezas com relação à pandemia e desempenho fraco da atividade. Porém, na passagem do 3º para o 4º trimestre, com o grupo prioritário totalmente imunizado, e a vacinação avançando mais rapidamente, entendemos que haverá um cenário de menos incerteza e maior crescimento da atividade (inclusive beneficiado pelo aquecimento sazonal típico de final de ano). Consequentemente, a taxa de desemprego deve se reduzir no período. Como resultado desta dinâmica, projetamos que o desemprego alcançará o nível médio recorde de 15,1% em 2021 contra 13,5% em 2020.

Crise pandemia

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