Rio de Janeiro, 5 de agosto de 2021 – Conforme divulgado no dia 29 de julho último, o saldo de emprego formal divulgado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) registrou geração líquida de 309 mil vagas em junho. Trata-se de um novo resultado surpreendente, acima da mediana de projeções dos analistas para o mês (267 mil). Ao todo, o CAGED já acumula um saldo líquido de 2,9 milhões de vagas criadas nos últimos 12 meses.
Contrastando com os números fortemente positivos de emprego formal, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada um dia depois, alcançou 14,6% para o trimestre móvel encerrado em maio. Este número – que corresponde exatamente ao projetado pela consultoria IDados – representa o pior mês de maio em toda a série histórica iniciada em 1992. Quando considerado o número com ajuste sazonal, o desemprego verificou estabilidade de 14,4% entre abril e maio (Gráfico 1).
Esta estabilidade no desemprego entre abril e maio pode ser explicada por dois movimentos opostos no mercado de trabalho. De um lado, notamos uma recuperação do emprego formal e informal, por meio do crescimento da População Ocupada (PO). A PO dessazonalizada entre abril e maio registrou um crescimento de 0,9% (alta de 768 mil empregos). Contudo, este crescimento da PO foi contrabalançado pelo aumento no ingresso de trabalhadores à força de trabalho, exercendo pressões sobre o desemprego.
O crescimento do ingresso de trabalhadores pode ser captado pelo aumento na taxa de participação, que passou de 57,0% para 57,2% na taxa dessazonalizada entre abril e maio. Nota-se, nesse sentido, uma aceleração no influxo de trabalhadores que regressaram à força de trabalho em maio, o que sinaliza uma reversão na trajetória da taxa de participação, que vinha se mantendo estagnada entre janeiro e abril de 2021.
Esperamos que a taxa de participação siga em tendência de alta nos próximos meses. Isso deve ocorrer em meio a um contexto de retomada da atividade de serviços e de redução das incertezas com a pandemia, conforme apontado em posts dos meses anteriores. Deve-se ressaltar que ainda observamos um nível de População Economicamente Ativa (PEA) inferior em 4,5 milhões de trabalhadores ao seu nível pré-pandemia, em fevereiro de 2020. Esperamos que parte desse contingente de trabalhadores retorne à PEA ao longo do restante do ano de 2021.
Inicialmente, este fluxo de entrada à PEA, contudo, não será plenamente absorvido pelos novos empregos gerados pela População Ocupada (PO), fazendo com que o desemprego siga estagnado nos 2º e 3º trimestre deste ano (Tabela 1). Somente no 4º trimestre de 2021 observaremos quedas mais acentuadas do desemprego, em função da aceleração da PO decorrente do período de festas de fim de ano. Também podemos observar na Tabela 1 que, mesmo diante do forte crescimento médio de PIB esperado para 2021 (5,3% segundo a mediana dos analistas Focus), o desemprego médio esperado 2021 (14,3%) será ainda superior ao observado em 2020 (13,5%).
Já em 2022, teremos um crescimento econômico mais modesto (alta do Produto Interno Bruto de 2,4%), segundo o Boletim Focus. Diante do quadro de crescimento mais fraco em 2022, ocasionado por maiores incertezas, inerentes a anos eleitorais, e juros mais elevados, esperamos que o desemprego persista em um nível alto ao longo do próximo ano, chegando, no 4º trimestre de 2022, a 11,8%. Deve-se ressaltar que este número ainda é superior ao observado no período pré-pandemia. Especificamente, no 4º trimestre de 2019, o desemprego estava em 11,0%.
A permanência em níveis elevados da taxa de desemprego, mesmo até o final de 2022, sinaliza um quadro de retomada gradual do mercado de trabalho brasileiro. Quedas mais acentuadas do desemprego para os próximos anos, com retorno a níveis pré-pandemia, dependerão de um ritmo mais consistente de retomada de atividade, capaz de impulsionar um crescimento mais intenso da PO.