iPIPS: ferramenta internacional pode mudar a realidade da educação no Brasil

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“Não se gerencia o que se mede, não se mede o que se define, não se define o que se entende e não há sucesso no que se gerencia” – a famosa frase do estatístico e professor universitário, William Edwards Deming, foi citada na abertura do I Seminário Internacional IDados sobre o debate educacional no Brasil. Estavam presentes também, pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF e  da Universidade Durham (Inglaterra), responsável pelo iPIPS – sigla em inglês para Indicador Internacional de Desempenho em Escolas Primárias.

Sob este prisma, é notório que há uma grande necessidade de trazer para a educação brasileira uma análise crítica de experiências internacionais com o objetivo de avaliar a aplicabilidade desses experimentos nas redes de ensino do país.

Para o presidente do IDados, Paulo Rocha e Oliveira, um dos pré-requisitos para se fazer esse tipo de trabalho é a existência de ferramentas de mensuração robustas que possam produzir evidências para análise. Pensando nisso, o IDados, um dos parceiros técnico e científico do  projeto criado pelo Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais – LaPOpE/UFRJ, tem como principal objetivo implantar essa ferramenta ao contexto brasileiro.

Através dos resultados do PISA e de outros estudos internacionais, não é sabida a quantidade de progresso que os alunos tiveram durante o tempo no sistema educacional. Existe uma necessidade de se fazer saber os níveis de desenvolvimento das crianças, quando iniciam na escola. Esse é o ponto de partida essencial para o sucesso.

De acordo com Marcio Costa, coordenador do LaPOpE /UFRJ, desenvolver diferentes ofertas e experiências escolares às pessoas irá permitir um salto de qualidade à pesquisa. “Confiamos em uma boa medida individual, um estudo inédito no Brasil e reconhecido cada vez mais na literatura internacional”, afirma Costa a esse respeito.

Quanto à Linha de Base Brasil, o professor da LaPOpE /UFRJ, Thiago Bartholo, deixou claro que os resultados são pré-testes para observação do que funciona no contexto brasileiro. Por essa razão, foram realizadas quatro aplicações para pré testar a qualidade da adaptação e do protocolo de aplicação em seis escolas no período pré-escolar e seis escolas de 1º ano em que puderam ser verificados os resultados preliminares para matemática e linguagem.

“Nos abrindo a estudos longitudinais será possível conseguir  boas respostas. Sempre nos desafiando e nos lançando a novos métodos de pesquisas e formatos”. – declarou o professor Fernando Tavares, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A questão é, segundo o professor, como transformar essas informações técnicas para pedagogos e professores com a utilização do iPIPS?

A professora e pesquisadora da UFRJ, Mariane Koslinski, também abordou sobre as várias questões do iPIPS,  presentes no Alfabetiza Rio – “ O teste, aplicado inicialmente em crianças  na pré-escola, pode ser empregado até o final do 2o ano do Ensino Fundamental”.

Em apresentação feita pela pesquisadora do IDados, Tássia Cruz, sobre a qualidade de medida, foram mostrados indicadores de como, já no piloto, foram observados dados muito mais precisos que em outras medidas de avaliação externas. A pesquisadora afirmou que o pré-teste permitiu observar a viabilidade e o ajuste dos itens ao contexto econômico.  “Fizemos um exercício para estudar a qualidade da medida de forma a analisar o efeito de políticas educacionais, escolas, práticas pedagógicas. Precisamos que essa medida seja precisa para indicar a importância de cada uma dessas variáveis”. – declarou Tássia, afirmando ainda que  “A avaliação dessas crianças é muito promissora para o desenvolvimento da educação”.

Sobre o iPIPS

O iPIPS fornece informações detalhadas sobre o que as crianças sabem e podem fazer dentro de um país. É um teste de fácil aplicação, em torno de 15 a 20 minutos, não expondo a criança a uma dificuldade além do que ela possa realizar e com uma medida de alta confiabilidade.

A ferramenta colhe informações robustas, em nível individual, sobre aptidões cognitivas de crianças entre 4 e 6 anos de idade nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, além de habilidades em coordenação motora no primeiro ano letivo, esclarecendo quais fatores estão ligados aos bons resultados.

A partir do diagnóstico inicial, os pesquisadores fazem o acompanhamento das crianças ao longo do Ensino Fundamental I. Os resultados devem servir de apoio para que formuladores de políticas públicas estejam conscientes das lacunas desta etapa, podendo saná-las, identificando os benefícios no longo prazo dos investimentos na Educação Infantil e em práticas comprovadamente eficazes de alfabetização.

Para um dos fundadores do iPIPS, Peter Tymms, é visível a dificuldade em melhorar de forma significativa um sistema educativo em um curto período. Fatores como a tradição, a cultura, a atitude em relação à educação e à economia de um país têm influência na qualidade da oferta educativa e na sua valorização pela população. Uma melhor qualificação dos professores para o progresso dessas crianças e ajudá-las a saber o mundo em que vivem no momento certo é um dos pontos principais.

De acordo com a diretora de pesquisa do Projeto, Christine Merrel, existem diversos aspectos de desenvolvimento que podem ser avaliados – “Devemos olhar o conteúdo oficial e como isso prever o investimento posterior. Uma avaliação ampla capta muita aprendizagem, olharmos o que é maleável e mutável e os impactos das crianças na escola. Temos um mundo de observações ao redor” – finalizou Christine.

Para reflexão:

– Sabe-se pelo PISA que o desempenho dos adolescentes brasileiros está muito aquém dos seus pares em outros países. Como fazer a comparação de crianças brasileiras com outras similares em outros países quando iniciam o processo escolar?

– O que essas diferenças dizem sobre as políticas de Primeira Infância no Brasil em comparação a outros países em circunstâncias similares?

– O que essas diferenças dizem sobre a aprendizagem das crianças no primeiro ano escolar no Brasil comparado a outros países?

– Até que ponto as diferenças perceptíveis em avaliações feitas mais próximas do final do processo escolar podem ser explicadas pelas diferenças observadas no começo da vida escolar?

Assista ao Seminário na íntegra: http://vocs.tv/iab/08122016/

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