A taxa de participação no mercado de trabalho atingiu um nível recorde, de 62,1%, na última divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE, que trouxe dados referentes ao trimestre encerrado em junho de 2019. Este número reflete a parcela da população em idade de trabalhar que está efetivamente inserida na força de trabalho, seja procurando um emprego ou já exercendo alguma ocupação. A taxa de participação é um indicador extremamente importante, uma vez que ajuda a captar o real engajamento da população no mercado de trabalho.
Este post busca analisar quais grupos da população mais têm contribuído para o aumento recente da taxa de participação, levando inclusive ao recorde observado no segundo trimestre de 2019. Mas antes de analisar a evolução da taxa de participação separadamente pelos diferentes grupos da população, vamos procurar identificar as tendências desta variável para a população como um todo, no período entre o primeiro trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2019.
O Gráfico 1 mostra que no período pré-crise, entre o primeiro trimestre de 2012 e o quarto trimestre de 2014*, a taxa de participação apresentou tendência de redução, caindo de 61,2% no primeiro trimestre de 2012 para 60,9% no quarto trimestre de 2014.
Porém, no período pós-crise, a taxa de participação apresentou uma reversão de tendência e, consequentemente, passou a crescer. Assim, o indicador saiu de 60,9% no quarto trimestre de 2014 e atingiu o nível recorde da série histórica (iniciada em 2012) de 62,1% no segundo trimestre de 2019.
Resta agora analisar quais grupos da população mais contribuíram para o crescimento expressivo da taxa de participação no período pós-crise. Para evitar problemas de sazonalidade, a análise realizada a seguir foca sempre na comparação entre trimestres idênticos. Portanto, a comparação será feita sempre entre 2014.2 (segundo trimestre do último ano pré-crise) e 2019.2 (segundo trimestre do último ano disponível no pós-crise). Vale ressaltar que a análise vai acompanhar a evolução da taxa de participação separadamente por: (i) condição no domicílio (chefe e não-chefe), (ii) sexo (mulher e homem) e (iii) idade (jovem, adulto e idoso).
A Tabela 1 apresenta a evolução da taxa de participação no período pós-crise separadamente por condição no domicílio. Os dados da tabela mostram que o aumento da taxa de participação foi “puxado” principalmente pelo comportamento dos não-chefes de domicílio. Mais precisamente, os números deixam claro que houve, no período pós-crise, um aumento da taxa de participação dos não-chefes de domicílio, que passou de 55,8% no segundo trimestre de 2014 para 59,8% no segundo trimestre de 2019 – um aumento expressivo de +4,0 pontos percentuais. No mesmo período, a taxa de participação dos chefes de domicílio caiu, saindo de 68,7% para 65,3% – queda de -3,4 pontos percentuais.
A Tabela 2 apresenta a evolução da taxa de participação no período pós-crise, separadamente por sexo. As informações mostram que o aumento da taxa de participação se deveu principalmente ao comportamento das mulheres. Os números ilustram que houve, no período pós-crise, um crescimento da taxa de participação das mulheres, que saiu de 50,6% no segundo trimestre de 2014 para 53,4% no segundo trimestre de 2019 – um aumento relativamente grande, de +2,8 pontos percentuais. Alternativamente, a taxa de participação dos homens apresentou uma queda no mesmo período, partindo de 72,6% no segundo trimestre de 2014 e chegando a 71,7% no segundo trimestre de 2019 – uma diminuição de -0,9 pontos percentuais.
Finalmente, a Tabela 3 fornece a evolução da taxa de participação no período pós-crise, separadamente por idade. Os números deixam claro que o crescimento da taxa de participação no período pós-crise foi “puxado” principalmente pelo comportamento dos jovens. A tabela mostra que foi justamente no grupo dos jovens que ficou constatado o maior aumento da taxa de participação entre o segundo trimestre de 2014 e o segundo trimestre de 2019. Nesse período, a taxa de participação dos jovens aumentou em +2,5 pontos percentuais, saindo de 49,4% e passando para 51,9%. Os outros dois grupos etários, adultos e idosos, apresentaram evolução bem menos expressiva da taxa de participação – de +1,7 e + 1,6 pontos percentuais, respectivamente.
Em resumo, os dados apresentados no presente texto sugerem que os chefes de domicílio estão reduzindo sua participação no mercado de trabalho, provavelmente em virtude do desempenho fraco que tem sido observado na economia no período pós-crise. Porém, para compensar a diminuição na participação dos chefes de domicílio, parece que os dependentes – mulheres e jovens – estão procurando atuar na direção oposta. Ou seja, parece que os dependentes estão procurando aumentar a sua taxa de participação no mercado de trabalho para compensar a saída dos chefes.
* A crise atingiu o mercado de trabalho apenas em 2015, em virtude da defasagem típica com que quedas da atividade econômica afetam o emprego.