Pesquisas de março e abril revelam profundas divergências entre PNADC e CAGED

De acordo com a análise de conjuntura do mercado de trabalho feita mensalmente pela consultoria IDados, indicadores de emprego vêm apresentando sinais ambíguos. Expectativa é de que desemprego se eleve no 2º e 3º trimestres, mesmo diante das fortes contratações do CAGED e do crescimento acelerado esperado para 2021

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Os indicadores de emprego do mercado de trabalho brasileiro vêm apresentando sinais ambíguos. Isso se manteve nos meses de março e abril. De um lado, o saldo de emprego formal medido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) registrou novo resultado positivo, alcançando geração líquida de 120 mil novas vagas em abril. Por outro lado, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) alcançou o patamar de 14,7% no trimestre móvel encerrado em março, uma alta de 0,3 ponto percentual em relação ao trimestre móvel encerrado em fevereiro (14,4%). Este número de março é próximo da projeção da consultoria IDados esperada para o período (14,8%). O resultado do desemprego de março é também o pior observado em toda a série histórica iniciada em setembro de 1992. Quando realizado o ajuste sazonal, o desemprego manteve-se estável em relação ao trimestre móvel imediatamente anterior, mantendo-se ao redor de 14,4%.

O resultado de PNADC mais uma vez revela uma profunda divergência com os dados de emprego formal apresentados pelo CAGED, como podemos notar no gráfico 1. O gráfico demonstra que o estoque de emprego formal CAGED já recuperou o patamar pré-crise, enquanto o nível de População Ocupada (PO) ainda se situa muito abaixo daquele registrado no início de 2020.

Um fator explicativo importante para essas divergências entre ambos os indicadores se encontra nas diferenças metodológicas entre a coleta de dados do CAGED e da PNADC. Uma outra importante fonte de divergências se encontra na inclusão de empregadores, trabalhadores domésticos e sem carteira assinada na PO da PNADC, que foram alguns dos vínculos mais afetados negativamente pela pandemia, como podemos notar na Tabela 1 (-21,2% para trabalhadores domésticos e -17,2% para empregados sem carteira assinada).

Podemos verificar, portanto, que a inclusão de trabalhadores domésticos e sem carteira na PNADC, que registraram quedas significativas, são fatores que contribuem para o pior desempenho desta pesquisa em relação ao CAGED. Estes vínculos em questão, que representam 19% da PO Total, estão fortemente relacionados a atividades de serviços. Estas atividades, por sua vez, contrastando com outros setores, como agropecuária, foram as mais prejudicadas pelas incertezas com a pandemia e as medidas de isolamento social. Portanto, uma retomada mais consistente do nível de emprego PO de 2021 dependerá de uma retomada mais consistente das contratações em serviços, o que dificilmente ocorrerá enquanto houver incertezas com a pandemia.

Nesse contexto, mesmo diante das fortes contratações do CAGED e do crescimento acelerado da atividade econômica esperado para 2021 (alta de 4,0% segundo estimativa mediana do Boletim Focus), esperamos que o desemprego se eleve no 2º e 3º trimestre (Tabela 2). Por um lado, a elevação do desemprego será puxada pelo retorno gradual dos trabalhadores que estão fora da força de trabalho, dentre os quais se incluem os chamados desalentados, à procura de emprego. Por outro lado, consideramos que os riscos e incertezas com a pandemia ainda permanecerão elevados no 2º e 3º trimestres, e tenderão a gerar um ritmo lento de retomada do emprego. O risco de uma 3ª onda e de um atraso nas vacinações são exemplos de ameaças possíveis que pesam contra uma retomada da PO e consequente queda da taxa de desemprego. Como resultado, alcançaremos um pico de 15,3% no desemprego no 3º tri de 2021. Já no 4º trimestre, esperamos que o movimento sazonal das festas de fim de ano e a disseminação da vacinação contribuam para um quadro de aceleração da atividade econômica e de diminuição da incerteza, ajudando a reverter a tendência de alta no desemprego, que deve cair para 14,4% no trimestre encerrado em dezembro de 2021.

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