Marcado pela crise pandêmica do coronavírus, 2020 foi um ano de queda no PIB, alta no desemprego e quebra generalizada de empresas. Apesar disso, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) surpreenderam no ano passado ao registrarem um saldo (diferença entre admitidos e desligados) positivo de geração de empregos formais. Segundo os dados do CAGED, foram criados, em 2020 como um todo, pouco mais de 142 mil postos de trabalho formais (Tabela 1).
Vale lembrar que a crise do mercado de trabalho formal no ano passado foi bastante concentrada no primeiro semestre, sendo que o pior momento foram os meses de março, abril e maio. Para se ter uma ideia da severidade da crise, apenas em março de 2020 o saldo mensal do CAGED chegou a registrar a destruição de 951 mil postos formais de trabalho. Contudo, uma forte recuperação do emprego formal passou a ocorrer a partir de junho, provavelmente influenciada pelas medidas implementadas pelo governo, como por exemplo, o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), que beneficiou pouco mais de 10 milhões de pessoas no ano.
Esse inesperado bom desempenho do mercado de trabalho formal brasileiro, a partir do segundo semestre de 2020, ganhou bastante espaço na mídia. Porém, a situação individual dos municípios parece ter recebido menos atenção. Assim, o objetivo deste post é precisamente analisar os dados do CAGED no nível municipal. Como existem 5.570 municípios no país, focaremos apenas nos 20 que mais geraram empregos e nos 20 que mais destruíram postos de trabalho em 2020.
Apesar de positivo, o saldo de movimentos do CAGED em 2020 não foi tão expressivo, e, por isso, os municípios que mais geraram postos de trabalho formais também não apresentaram desempenhos tão significativos (Tabela 2). O munícipio que aparece em primeiro lugar nesse ranking é Manaus (AM), que gerou em torno de 10.869 empregos formais em 2020. Pouco diferente do segundo lugar, São Luís (MA), que registrou um saldo positivo de 10.334 empregos formais no mesmo período. Juntos, os 20 municípios que mais geraram postos de trabalho formais em 2020 foram responsáveis pela criação de mais de 116 mil vagas.
Ao olharmos para os vinte municípios que mais destruíram vagas formais em 2020, vemos que os dois primeiros colocados foram Rio de Janeiro e Porto Alegre (Tabela 3). Neste caso, o que chama atenção é a expressiva diferença entre o primeiro e os demais colocados. Por exemplo, o Rio de Janeiro, primeiro colocado, destruiu quase seis vezes mais postos de trabalho formais que Porto Alegre, que ficou em segundo lugar. Isso porque no Rio de Janeiro houve a destruição de quase 93 mil empregos formais, enquanto Porto Alegre registrou a eliminação de pouco mais de 16 mil vagas formais.
Em resumo, observamos que, apesar da crise, houve geração positiva de empregos formais no Brasil como um todo em 2020. Porém, o dado agregado esconde grande heterogeneidade entre municípios. Dessa forma, ao olharmos para os saldos no nível do município, constatamos que a diferença entre aqueles que mais criaram empregos não foi tão expressiva, visto que todos os vinte analisados geraram entre 3 e 11 mil postos formais.
Por outro lado, entre os vinte com o pior desempenho, chama atenção o expressivo fechamento de vagas formais no Rio de Janeiro. Quase metade das vagas formais destruídas nos 20 municípios com maior eliminação de empregos legalmente registrados encontra-se na capital fluminense, o que indica, em especial, que o mercado de trabalho formal carioca sofreu muito mais com a pandemia do que os demais municípios.
Isso pode decorrer do fato de o mercado de trabalho formal carioca ter uma grande proporção de seus empregos concentrados no setor de serviços, que foi o mais afetado pela pandemia.