O blog do IDados tem tratado de inúmeros temas ligados ao mercado de trabalho brasileiro. Dentre os temas de maior popularidade, figuram textos que procuram analisar a diferença salarial existente entre trabalhadores muito e pouco qualificados (para um exemplo, ver aqui). No entanto, não houve nenhum texto até o momento que buscasse entender como a geração de postos de trabalho tem evoluído, nos últimos anos, separadamente por grau de qualificação dos trabalhadores.
Neste post, analisamos como tem evoluído a geração de vagas no mercado de trabalho brasileiro, nos anos recentes, separadamente por nível de qualificação dos trabalhadores. Para isso, recorremos aos dados de emprego formal, fornecidos pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), e foco no período dos onze anos compreendidos entre 2007 e 2017.
Na Tabela 1, observamos que a maior parte dos brasileiros formalmente empregados estava trabalhando em 2007 em postos que exigiam pouca qualificação, visto que demandavam apenas ensino médio não técnico ou fundamental. Especificamente, verificamos, naquele ano, que 77,8% dos trabalhadores formais brasileiros – ou mais de 27 milhões de indivíduos – estavam ocupados em funções que exigiam baixo grau de qualificação.
Ainda na Tabela 1, constatamos que em 2007 uma proporção bem menor de trabalhadores brasileiros estava empregada em vagas que exigiam maior grau de qualificação. Neste sentido, verificamos que, naquele ano, existiam apenas 10,8% de trabalhadores brasileiros – ou aproximadamente 4 milhões de indivíduos – empregados em vagas que exigiam ensino superior.
Também verificamos, por meio de uma comparação entre as Tabelas 1 e 2, que houve um aumento entre 2007 e 2017 da proporção de indivíduos empregados em vagas que exigiam ensino superior. Mais precisamente, a proporção de pessoas empregadas em postos de trabalho que demandavam ensino superior passou de 10,8% em 2007 (ver Tabela 1) para 12,3% (ver Tabela 2) em 2017.
Alternativamente, observamos, ainda na comparação entre as Tabelas 1 e 2, que houve uma queda entre 2007 e 2017 da proporção de trabalhadores empregados em vagas que exigiam baixo grau de qualificação. Neste caso, a proporção de indivíduos empregados em vagas que demandavam baixa qualificação apresentou redução, caindo de 77,8%, em 2007 (ver Tabela 1) para 75,4% em 2017 (ver Tabela 2).
Finalmente, o Gráfico 1 apresenta a evolução dos postos de trabalho por grau de qualificação. O gráfico ajuda a explicar porque houve aumento na proporção de vagas para indivíduos muito qualificados e queda na parcela de vagas para os indivíduos pouco qualificados. Este comportamento resulta do crescimento muito mais expressivo das vagas para os indivíduos qualificados, comparativamente ao aumento observado nos postos de trabalho disponíveis para indivíduos pouco qualificados.
Os números do Gráfico 1 mostram que houve um crescimento acumulado de mais de 20% no total de vagas entre 2007 e 2017. Porém, o crescimento mais expressivo ocorreu justamente nas vagas para os indivíduos com elevada qualificação (com exigência de ensino superior). Para este grupo, dos mais qualificados (com ensino superior), houve um crescimento de quase 40% nos postos de trabalho. Alternativamente, para os indivíduos menos qualificados (com ensino médio não técnico ou fundamental), o crescimento nos postos de trabalho ocorreu em um ritmo bem menos intenso, ficando próximo de 18%.
Os resultados apresentados aqui sugerem que a obtenção de qualificação tem se tornado cada vez mais importante para a conquista de um emprego no mercado de trabalho brasileiro. Enquanto os trabalhadores qualificados têm visto as suas oportunidades de emprego crescendo em um ritmo acelerado, os demais têm enfrentado um cenário bem menos favorável, com aumento muito menos expressivo das oportunidades de emprego.