O mercado de trabalho apresentou sinais ambíguos nas últimas pesquisas apresentadas em setembro. De um lado, o saldo de emprego formal medido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) surpreendeu positivamente, registrando geração líquida de 249 mil vagas em agosto. Contribuiu para o resultado positivo o programa de subsídios à folha de pagamento do Benefício Emergencial (BEm), que tende a atenuar demissões com carteira assinada. Esperamos que o programa, previsto para ser mantido até o final do ano, continue a impactar positivamente o saldo de emprego formal para os próximos meses. Também esperamos que o fim do Bem, em dezembro, venha a provocar forte influxo de demissões de trabalhadores formais no 4º trimestre de 2020.
Em contraste com os resultados positivos do CAGED, houve surpresas negativas na divulgação do último dado de desemprego medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). O desemprego correspondente ao último dado divulgado, referente ao trimestre encerrado em julho, foi revelado com um mês de atraso e alcançou o patamar de 13,8%. Trata-se de uma alta de 0,5 ponto percentual em relação ao mês anterior (13,3% em junho).
Contribuiu para a aceleração do desemprego o aumento do influxo de pessoas ocupadas para o desemprego, em razão do cenário de fragilidade econômica gerada pela pandemia. A População Ocupada (PO) caiu -1,6% entre junho e julho. Parte dessa queda da PO se reverteu para o aumento da População Desocupada (PD), que registrou alta de 2,7% no mesmo período. Uma outra parte se converteu em saída para a inatividade, medida pela População Não Economicamente Ativa (PNEA). A PNEA registrou aumento de 1,5% no período. Este influxo de saída para a PNEA em julho foi bem menor do que o observado nos meses anteriores, que já alcançou alta de 5,7% entre abril e maio. Caso a PNEA mantivesse o ritmo de crescimento dos meses anteriores, o desemprego de julho teria crescido menos.
Mesmo neste cenário desafiador, realizamos nossas projeções para a evolução do mercado de trabalho brasileiro em 2021. Esse post discute justamente as nossas expectativas para a evolução do mercado de trabalho brasileiro no ano que vem. Esperamos que o fim das transferências governamentais do Auxílio Emergencial, previsto para durar até dezembro de 2020, promova um forte influxo de pessoas para a força de trabalho no início de 2021, elevando o desemprego no primeiro trimestre do ano que vem. Podemos observar este influxo no Gráfico 1 abaixo. O gráfico demonstra que, no período entre o 4º trimestre de 2020 e o 1º trimestre de 2021, poderá ocorrer um ingresso de 5,2 milhões de pessoas à População Economicamente Ativa (PEA), com alta de 5,4% no trimestre. Paralelamente, o aumento de 2,1 milhões na População Ocupada (PO) no mesmo período (alta de 2,5%) não será suficiente para absorver o total de trabalhadores ingressantes no mercado de trabalho. Como resultado, o desemprego se elevará para até 16,6% no trimestre encerrado em março de 2021 (Gráfico 2).
Contudo, entre o 2º e 4º tri de 2021, esperamos que este fluxo de ingresso de trabalhadores à PEA desacelere, enquanto estima-se que a PO deva permanecer com um ritmo de crescimento estável, levando à queda do desemprego. Com isso, o desemprego deve seguir uma trajetória de queda atingindo 13,1% em dez/2021 (Gráfico 2). Esta queda no desemprego ocorrerá em meio a um cenário de recuperação da atividade prevista para 2021 (alta de PIB de 3,5% em 2021 segundo o Boletim Focus) e de fortes contratações formais (geração acumulada de 819,3 mil vagas de CAGED), como podemos notar na Tabela 1. Contudo, apesar de 2021 ser um ano de crescimento elevado de PIB e de fortes contratações formais, o desemprego deve permanecer a níveis elevados, alcançando o patamar recorde de 14,8% na média anual de 2021.
É importante ressaltar que o presente cenário de emprego para 2021 está sujeito a inúmeras incertezas. Uma incerteza relevante diz respeito à prorrogação do Auxílio Emergencial para o início do ano que vem. Pressões políticas pela manutenção desse benefício têm ganhado força recentemente, em meio a um quadro de indefinição na implementação de um substituto ao Auxílio Emergencial. Deste modo, caso esta prorrogação se concretize, é possível que um maior percentual de pessoas deva conseguir permanecer fora da força de trabalho, mesmo no primeiro trimestre de 2021. Isso reduziria o pico do desemprego no trimestre encerrado em março de 2021. Ademais, o pico menor no início de 2021 resultaria em uma taxa média de desemprego mais baixa no ano que vem.