Desemprego deve subir em março, apesar do atual cenário de recuperação econômica

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Por Bruno Ottoni, pesquisador do IDados

Esta semana, mais precisamente na sexta-feira dia 27/04/2018, será divulgada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa em questão, referente ao trimestre encerrado em março de 2018, trará diversas informações sobre a situação recente do mercado de trabalho brasileiro.

Dentre as inúmeras informações trazidas pela pesquisa, certamente receberá bastante atenção o dado da taxa de desemprego. O último número divulgado, referente ao trimestre encerrado em fevereiro de 2018, apontava para uma taxa de desemprego de 12,6% (ver gráfico abaixo). O mercado projeta que haverá um aumento desta taxa de desemprego, que passará, no trimestre encerrado em março, para 12,8% (ver gráfico abaixo).1

O leitor deve estar se perguntando: como pode o mercado projetar ao mesmo tempo um crescimento econômico mais robusto, para o primeiro trimestre de 2018, e um aumento da taxa de desemprego, para o mesmo período?2 Não há uma certa inconsistência nestas projeções?

Na verdade, não há inconsistência nestas previsões. É que existe um comportamento sazonal típico do mercado de trabalho brasileiro, que pressiona para cima a taxa de desemprego no primeiro trimestre do ano. Mais precisamente, este comportamento sazonal tradicional decorre do fato de que os trabalhadores temporários, contratados no final do ano para atender a demanda aquecida durante o período de festas, são posteriormente demitidos no início do ano seguinte.

Agora o leitor pode estar se fazendo outra pergunta: como é possível saber, então, se o mercado de trabalho do país está realmente passando por um momento de recuperação diante deste cenário de aumento do desemprego no início do ano?

Existem algumas maneiras para tentar compreender se o mercado de trabalho está se recuperando, mesmo no período de início de ano, quando costuma haver aumento sazonal da taxa de desemprego. Minha preferida é a comparação entre a taxa de desemprego atual e aquela observada no ano anterior.

Assumindo que a projeção do mercado esteja correta, a taxa de desemprego chegará a 12,8% no trimestre encerrado em março de 2018 (ver gráfico abaixo). No mesmo período do ano anterior, trimestre encerrado em março de 2017, a taxa de desemprego estava em 13,7% (ver gráfico abaixo). Portanto, esta comparação entre a taxa de desemprego corrente e aquela observada no ano anterior sugere, em consonância com as projeções do mercado, que o país está realmente atravessando um momento de recuperação econômica. Esta retomada pode ser percebida justamente pelo fato de que a taxa de desemprego atual, de março de 2018, encontra-se em um patamar menor do que aquela observada para o mesmo período do ano anterior, março de 2017.

Este post traz, portanto, uma boa notícia. O mercado de trabalho brasileiro está se recuperando. Ademais, o presente texto argumenta que mesmo a projeção dos analistas de que haverá um aumento da taxa de desemprego, entre o trimestre encerrado em fevereiro e aquele finalizado em março, não deve ser vista como uma evidência de reversão deste quadro de retomada do mercado de trabalho.

Resta agora continuar acompanhando a evolução da taxa de desemprego nos próximos meses para saber se o país seguirá no caminho projetado pelos especialistas de recuperação do mercado de trabalho.

Gráfico: Evolução da taxa de desemprego

grafico idados

Fonte: PNADC (IBGE). Elaboração: IDados

1 Média das 24 projeções coletadas na plataforma da Bloomberg no dia 24/04/2018.

2 Lembrando que o mercado projeta um crescimento de 1,9% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2018 (mediana das cerca de 130 projeções contidas no Boletim Focus do Banco Central no dia 20/04/2018). Mais precisamente, este crescimento projetado de 1,9% no PIB advém de uma comparação entre o primeiro trimestre deste ano de 2018 e o mesmo período do ano anterior de 2017.

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