Por Guilherme Hirata, pesquisador do IDados
O debate em torno de como melhorar a educação no Brasil concentra-se quase sempre na questão do investimento, custo, gasto. Qualquer que seja o termo utilizado, em geral fala-se em dinheiro. Este post discute uma forma não monetária de melhorar o desempenho dos alunos.
Bruns e Luque (2014) mostram, para o Rio de Janeiro, que diferenças na qualidade do uso do tempo em sala de aula está associado a diferenças no Ideb. A tabela abaixo, baseada nas respostas dos professores ao questionário da Prova Brasil, apresenta um quadro semelhante para o país como um todo.
As colunas (1) e (3) mostram a porcentagem de professores que declaram usar 80% ou mais do tempo de aula realizando atividades de ensino e aprendizagem, para professores do 5º e 9º anos, respectivamente. As colunas (2) e (4) mostram a nota média em Matemática geral e por quintil de distribuição das notas.
A primeira característica que chama a atenção é a baixa porcentagem em todos os casos. Mesmo no quintil mais alto da distribuição de notas no 5º ano, apenas 58% dos professores lecionam ao menos 80% do tempo (a média é de 46%).
A segunda é que a porcentagem é ainda menor nos anos finais. Não chega a 50% no melhor dos casos.
A terceira característica é que a associação com desempenho é alta. Embora não se possa afirmar que seja causal, a diferença na porcentagem entre os extremos da distribuição é de tal magnitude que parece improvável que a gestão do tempo em sala não seja um fator determinante do desempenho do aluno.
Diante desse quadro, parece palpável a ideia de que não é necessário aumentar o gasto permanente com educação para que os alunos aprendam mais. Melhorar a gestão do tempo poderia ser um primeiro passo.