Este texto visa a contribuir para o debate sobre a Reforma da Previdência ao apresentar as informações relativas à jornada de trabalho semanal separadamente por faixa etária.
Para aprofundar o conhecimento acerca das jornadas de trabalho dos grupos mais idosos, realizamos uma análise mais desagregada justamente para os grupos etários com pessoas mais velhas.
Todas as informações apresentadas foram calculadas a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados utilizados compreendem as seguintes ondas da PNADC: dezembro de 2015, de 2016, de 2017 e de 2018.
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O Gráfico 1 apresenta a evolução entre dezembro de 2015 e dezembro de 2018 da jornada de trabalho semanal da população brasileira como um todo. Porém, como já dito anteriormente, para permitir o monitoramento do comportamento dos idosos, os números são apresentados de forma mais desagregada para as faixas etárias que compreendem os indivíduos mais velhos.
Dois fatos analisados no gráfico chamam a atenção:
O primeiro é o fato de que a jornada de trabalho diminui com a idade. Focando em dezembro de 2018, notamos que a jornada de trabalho começa em 39,8 horas por semana para indivíduos com idades entre 14 e 49 anos, mas termina em um valor expressivamente menor, de 33,1 horas por semana, para aqueles com 70 anos ou mais de idade.
O segundo fato que chama a atenção é que a jornada de todos os grupos etários permanece relativamente estável ao longo do período analisado. Particularmente, a jornada de trabalho permaneceu, entre dezembro de 2015 e dezembro de 2018, em 39,8 horas semanais, para os indivíduos que têm entre 14 e 49 anos de idade.
Diante dos números acima, ocorre-nos perguntar: os idosos reduzem voluntariamente as horas trabalhadas ou acabam diminuindo a jornada por falta de oportunidades de emprego que ofereçam uma quantidade maior de horas?
Felizmente, os dados da PNADC contêm uma pergunta que ajuda a responder esta questão sobre se idosos trabalham menos por vontade própria ou se são obrigados a adotar jornadas mais reduzidas por falta de oportunidades de emprego que ofereçam um número maior de horas. Mais precisamente, a PNADC pergunta a todos os indivíduos que estão ocupados se gostariam de trabalhar mais horas por semana.
Assim, ficamos com duas possibilidades. Por um lado, se uma proporção elevada dos idosos afirma que gostaria de trabalhar mais horas por semana, então as jornadas menores, praticadas pelos indivíduos mais velhos, provavelmente decorrem de uma escassez de empregos capazes de atender a demanda deste grupo etário por jornadas mais longas. Por outro lado, se uma proporção baixa dos idosos afirma que gostaria de trabalhar mais horas, então provavelmente as jornadas menores representam, na verdade, uma escolha dos próprios indivíduos pertencentes às faixas etárias mais velhas.
O Gráfico 2 apresenta dados que ajudam a entender em que medida idosos querem ou não trabalhar mais horas por semana. Nele, vemos separadamente por faixa etária a evolução da proporção dos ocupados que gostariam de trabalhar mais horas por semana.
O gráfico em questão deixa claro que os idosos estão mais satisfeitos com a quantidade de horas trabalhadas do que os jovens. Por exemplo, focando em dezembro de 2018, verificamos que 8,0% dos ocupados com idades entre 14 e 49 anos gostariam de trabalhar mais horas.
Porém, na faixa etária de indivíduos mais velhos, com 70 anos ou mais, a proporção de indivíduos que gostaria de trabalhar mais horas cai expressivamente, chegando a ficar em 3,9%.
Em resumo, constatamos que quanto mais idoso o indivíduo, menor a sua jornada semanal de trabalho. Além disso, verificamos que, aparentemente, as jornadas menos extensas dos idosos se devem a uma escolha voluntária deles – e não da falta de oportunidades de emprego que ofereçam jornadas mais longas.
Finalmente, vale ressaltar que uma eventual reforma da previdência, ao dificultar o acesso ao benefício pago a título de aposentadoria, poderia ampliar significativamente a quantidade de idosos interessados em estender a sua jornada de trabalho.
Porém, não é possível antecipar o tamanho exato do aumento que a realização de uma reforma da previdência poderia produzir na demanda dos idosos por jornadas mais longas. O aumento dessa demanda teria que ser bastante forte para mudar expressivamente os padrões que observamos.