Os últimos números divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em agosto indicam que o mercado de trabalho brasileiro está se recuperando após um longo período de elevação da taxa de desemprego. Contudo, analistas apontam que essa recuperação é lenta e puxada especialmente pelo trabalho informal, seja ele o emprego sem carteira assinada ou o trabalho por conta própria. Este post apresenta algumas estatísticas a respeito da transição de desemprego para o emprego (entrada no mercado de trabalho) e do emprego para o desemprego (saída do mercado de trabalho), utilizando dados da PNAD-Contínua (PNAD-C).
O Gráfico 1 mostra como evoluiu o fluxo de entradas e saídas do mercado de trabalho entre 2012 e 2019 (período de abrangência da PNAD-C). As análises se restringem apenas a mudanças que ocorreram entre um trimestre e outro, ou seja, todas as comparações são em relação ao trimestre exatamente anterior[1].
Primeiramente, notamos que o fluxo de entradas e saídas é pequeno em relação ao tamanho da força de trabalho. No último trimestre analisado (2º tri de 2019), 2 milhões de pessoas saíram do emprego para o desemprego e 2,5 milhões ingressaram no emprego, saindo da condição de desemprego. Já 57 milhões se mantiveram em sua posição inicial (seja ela de emprego ou desemprego). Ou seja, a maioria dos indivíduos (92%) não muda de status entre um trimestre e outro: os que estão ocupados se mantém ocupados e os que estão desocupados se mantém desocupados.
Outro ponto importante é que o ingresso no mercado de trabalho (trabalhadores indo do desemprego para o emprego) subiu no período recente, mas foi acompanhado pela elevação das saídas (emprego para desemprego). Ou seja, o saldo se manteve relativamente constante ao longo dos anos analisados, mas a rotatividade parece ter aumentado. A exceção são os anos de 2015 e 2016, auge da crise econômica, onde o saldo acumulado foi negativo e houve destruição de postos de trabalho. Desde então, o saldo retornou a valores similares ao período pré-crise, mostrando que a recuperação está ocorrendo, mas de maneira moderada.
No Gráfico 2, olhando somente para o ingresso na população ocupada (desemprego para emprego), notamos uma mudança nas características de entrada no período. Notamos que há um aumento considerável de trabalhos informais, o que é condizente com o diagnóstico de que a queda no desemprego tem sido puxada especialmente pela informalidade. Enquanto no 2º trimestre de 2012 59% dos ingressantes no mercado de trabalho entravam em ocupações informais, no mesmo período deste ano 70% dos novos trabalhadores estavam na informalidade.
[1] Como a PNAD-C é um painel rotativo, ao usarmos dados de uma mesma pessoa em dois momentos no tempo, perdemos uma parte da amostra. Por isso o tamanho da população ocupada e desocupada não necessariamente é igual ao divulgado pelo IBGE.