Este levantamento procura analisar a distribuição geográfica do trabalhador brasileiro que ganha um salário mínimo ou menos. A ideia é complementar levantamentos anteriores que também procuraram analisar aspectos específicos desses trabalhadores (ver aqui e aqui).
O levantamento utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes aos terceiros trimestres de 2015 e 2019. O foco apenas no 3º trimestre destes dois anos visa simplificar a análise, ao considerar apenas os anos necessários para extrair as conclusões discutidas aqui.
A tabela 1 mostra que, no 3º trimestre de 2015, havia 25,5 milhões de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos, o que corresponde a aproximadamente 28,8% dos trabalhadores. Naquele momento, o Brasil tinha cerca de 88,6 milhões de pessoas ocupadas.
O número para o Brasil como um todo é interessante, mas esconde as expressivas diferenças que existiam entre as cinco grandes regiões brasileiras no 3º trimestre de 2015. Regiões como a Norte e a Nordeste, por um lado, apresentavam elevada proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos (54,4% na Norte e 41,8% na Nordeste). Já as regiões Sul e a Sudeste, por outro lado, apresentavam reduzida proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos (15,8% na Sul e 18,7% na Sudeste).
Focando tanto no Brasil como um todo quanto separadamente nas cinco grandes regiões do país, a tabela 2 mostra como a crise afetou os trabalhadores que ganhavam um salário mínimo ou menos. Comparam-se dados de 2015, primeiro ano da crise, e de 2019, últimos divulgados. Para controlar para efeitos sazonais, a comparação é feita apenas entre o 3º trimestre de ambos os anos.
Os dados apresentados na Tabela 2 mostram que a crise aumentou a proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos. No caso do Brasil como um todo, a crise provocou um crescimento de +1,0 ponto percentual (p.p.) na proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos. O número aumentou de 28,8% no 3º trimestre de 2015 para 29,8% no 3º trimestre de 2019.
No caso das grandes regiões, a crise provocou aumento na proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos em três delas – Norte (+4,0 p.p.), Sudeste (+2,2 p.p.) e Centro-Oeste (+1,7 p.p.) -, e praticamente não teve efeito sobre duas – Nordeste (+0,5 p.p.) e Sul (-0,4 p.p.).
Em resumo, dois fatos chamam atenção neste levantamento. Primeiro, a proporção de trabalhadores que recebe um salário mínimo ou menos difere bastante de acordo com a grande região analisada. Segundo, a crise provocou um aumento da proporção de trabalhadores que recebem um salário mínimo ou menos tanto no Brasil como um todo quanto na maior parte das grandes regiões.