Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este post apresenta um levantamento sobre a cor de pele do trabalhador brasileiro que ganha um salário mínimo ou menos. A ideia é complementar posts anteriores que também procuraram analisar aspectos específicos desses trabalhadores brasileiros (ver levantamentos anteriores aqui, aqui e aqui). Vale acrescentar que o presente post utiliza apenas dados referentes aos terceiros trimestres de 2015, 2017 e de 2019 a fim de simplificar a análise realizada.
A tabela 1 mostra que, no 3º trimestre de 2015, existiam 25,53 milhões de trabalhadores brasileiros recebendo um salário mínimo ou menos. Como havia um total de 88,64 milhões de pessoas ocupadas no Brasil, esse número representava quase 29,00% dos trabalhadores brasileiros. Ainda na tabela 1, pode-se notar que existiam, no 3º trimestre de 2015, expressivas diferenças, por cor de pele, na proporção de trabalhadores que ganhavam um salário mínimo ou menos. Por um lado, uma elevada parcela de 37,78% dos negros recebia um salário mínimo ou menos. Por outro lado, uma proporção bem menor – de 19,08% dos brancos – recebia, naquele mesmo período, um salário mínimo ou menos.
Focando tanto no Brasil como um todo quanto, separadamente, por cor de pele, a tabela 2 procura mostrar como evoluiu, desde a crise, a proporção de trabalhadores ganhando um salário mínimo ou menos. Para isso, a referida tabela começa com dados de 2015, primeiro ano da crise, e termina com números de 2019, últimos divulgados. Ademais, visando controlar para efeitos sazonais, a comparação é feita apenas entre o 3º trimestre de todos os anos que aparecem na tabela.
Os dados apresentados na tabela 2 indicam que a crise aumentou a proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos. No caso do Brasil como um todo, a crise provocou um crescimento de +2,56 pontos percentuais (p.p.) na proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos, fazendo o número sair de 28,80%, no 3º trimestre de 2015 e atingir 31,36% no 3º trimestre de 2017. Por cor de pele, a crise provocou aumento em todos os casos: negros (+2,49 p.p.), brancos (+2,25 p.p.) e outros (+2,66 p.p.).
Passada a crise, a proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos voltou a cair. No caso do Brasil como um todo, a lenta retomada a partir de 2017 ajudou a provocar uma queda de -1,55 p.p. na proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos, fazendo o número sair de 31,36% no 3º trimestre de 2017 para atingir 29,81% no 3º trimestre de 2019. Por cor de pele, a lenta recuperação iniciada em 2017 contribuiu para uma queda na maioria dos casos – negros (-2,24 p.p.), brancos (-1,27 p.p.) e outros (+1,96 p.p.).
Em resumo, chamam atenção três fatos levantados aqui. Primeiro, a proporção de trabalhadores que recebe um salário mínimo ou menos difere bastante de acordo com a cor de pele. Segundo, a crise aumentou a proporção de trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos. O crescimento ocorreu tanto no caso do país como um todo quanto para todos os tipos de cor de pele. Finalmente, a lenta recuperação, iniciada em 2017, ajudou a diminuir a proporção dos trabalhadores recebendo um salário mínimo ou menos. Essa queda ocorreu tanto para todos os trabalhadores do país quanto para a maioria dos tipos de cor de pele.