Há muita discussão em torno do fechamento das escolas e seu efeito sobre a educação. Enquanto em outros países houve reaberturas e novos fechamentos, no Brasil é possível que se complete um ano de escolas fechadas. No entanto, a escola não é o único fator que influencia o desempenho escolar. Este post vai além das escolas e discute a questão do nível socioeconômico pós-pandemia.
Terminada a década de 2010, é possível que o Brasil não tenha evoluído em termos de renda per capita. Os números de 2020 ainda não estão disponíveis, mas, dada a queda do PIB, espera-se uma retração na renda também. A renda das famílias costuma ser utilizada para medir o nível socioeconômico (NSE), e há consenso de que o NSE está intimamente ligado ao desempenho escolar.
A figura abaixo é apenas um exemplo simples, que mostra a relação entre renda per capita (calculada usando dados da PNAD Contínua) e desempenho em Matemática na Prova Brasil, ambos para 2019. Cada ponto representa um estado da federação. O desempenho escolar refere-se a alunos da rede pública do 5º ano do ensino fundamental, e a renda per capita refere-se a domicílios com indivíduos que frequentam etapas da educação básica em escola pública.
O gráfico mostra, como esperado, que quanto maior a renda, melhor tende a ser o desempenho, mesmo para quem estuda na rede pública. Isso significa também que uma redução na renda per capita tende a reduzir o desempenho escolar. Dada a queda esperada na renda em 2020, é possível que o desempenho escolar tenha piorado, e isso aconteceria mesmo se as escolas estivessem funcionando. Novamente, isso poderia ocorrer porque a escola não é o único fator que influencia o desempenho escolar.
Se a queda na renda for temporária, ou seja, se a economia se recuperar logo, há tempo para reduzir ou mesmo eliminar os efeitos negativos sobre desempenho para alunos que já estão no ensino fundamental e médio. A grande preocupação fica por conta das crianças na faixa de 0 a 3 anos, fase em que o desenvolvimento cerebral é muito acelerado e que depende de estímulos da família. Nesse caso, a deterioração do ambiente familiar associado a uma queda na renda, mesmo que temporária, pode ter efeitos permanentes. Se houver Prova Brasil até lá, entre 2027 e 2031 os dados irão revelar se houve sequelas.