Por Guilherme Hirata, pesquisador do IDados
Você já se perguntou porque seu colega de trabalho ganha mais do que você? Trabalhadores que exercem a mesma profissão raramente recebem salários idênticos. Alguns motivos são óbvios, como experiência, tipo de contrato e jornada de trabalho; outros não são nada triviais, como discriminação, resiliência e disciplina. Esses e outros fatores influenciam a definição do salário de cada trabalhador, gerando uma dispersão de salários. Neste post, vamos analisar a dispersão nos salários dos professores no Brasil.
Há várias maneiras de se medir a dispersão de uma variável e uma das mais comuns é por meio do chamado desvio-padrão. Intuitivamente, o desvio-padrão nada mais é que uma média, que mostra quão distantes os salários dos indivíduos estão do salário médio. Se todos recebessem o mesmo salário, o desvio-padrão seria zero, já que todos os salários seriam iguais ao salário médio. Conforme a dispersão dos salários aumenta, maior se torna o desvio-padrão. Eventualmente, o desvio-padrão pode ser bem maior que a média, o que indica muita variabilidade nos salários.
A tabela abaixo traz a média e o desvio-padrão dos salários dos professores por setor e etapa de ensino (leia aqui e aqui outras análises sobre salário dos professores). O que se observa é que, em cada etapa (com exceção da educação infantil), a dispersão no setor público é bem menor que no setor privado.
Ainda que o concurso público preveja salários diferentes de acordo com tempo de experiência e qualificação (títulos), é natural que a dispersão seja menor que no setor privado. Nos níveis de ensinos médio e superior, a dispersão no setor privado é ao menos três vezes maior que no setor público. Além da velha e conhecida lei da oferta e demanda, é aqui que entram os fatores mencionados no primeiro parágrafo que determinam salários: os não triviais atuam mais livremente no setor privado, para o bem ou para o mal.
Se o princípio de que trabalhadores que exercem trabalho igual devem receber salários iguais for seguido, o argumento também valeria para trabalhadores que exercem trabalhos diferentes, trabalham de forma diferente ou logram resultados diferentes, já que uns sabem mais que outros, uns são mais esforçados que outros, uns contribuem mais que outros. No caso do magistério, não os diferenciar pode ser desestimulante para o professor de hoje e não ser atraente para o professor de amanhã.