A crise econômica que atingiu a economia brasileira entre 2014 e 2017 – e ainda é sentida no mercado de trabalho – trouxe diversas consequências para as condições de trabalho dos indivíduos. Por exemplo, houve um aumento na informalidade, no número de desalentados e na redução nas horas das jornadas de trabalho. Embora estes efeitos negativos sejam sentidos por todos, estas mudanças atingem os trabalhadores de modo desigual. Neste post, investigamos como a distribuição da renda domiciliar per capita entre trabalhadores mais ricos e mais pobres evoluiu nos últimos anos.
Para isso, usamos os dados da renda habitual do domicílio per capita do segundo trimestre da PNAD Contínua entre 2012 e 2019. Separamos a análise do grupo de trabalhadores mais ricos daqueles mais pobres.
A Tabela 1 reporta o estado atual da distribuição de renda domiciliar per capita entre os trabalhadores mais ricos e mais pobres. Podemos observar que uma fração pequena da população – os 20% mais ricos – se apropria de 63,73% de toda a massa de renda domiciliar per capita gerada no mercado de trabalho. Este montante ultrapassa três quartos de toda a renda gerada (75,5%), ao analisarmos a fração de renda destinada aos 30% mais ricos. Na ponta oposta, observamos que os 30% mais pobres ficam com menos de 2% de toda a renda considerada, sendo menos de 0,2% o total apropriado pelos 20% mais pobres.
Diante deste cenário, avaliaremos como evoluiu a distribuição de renda no período de 2012 a 2019 entre esses dois extremos: os 20% mais ricos e os 20% mais pobres, enfatizando os possíveis efeitos da crise econômica.
Primeiro, estudaremos como evoluiu a parcela de renda destinada aos 20% mais ricos. O gráfico 1 mostra que, até o período anterior à crise, entre 2012 a 2014, a parcela da renda habitualmente recebida pelos mais ricos estava em trajetória de queda. Entretanto, esta tendência se reverteu durante a crise econômica e nos anos posteriores a ela, com um crescimento de dois pontos percentuais na fração de renda do trabalho que ficou com os trabalhadores mais ricos.
No gráfico 2, realizamos o mesmo exercício. Porém, o enfoque recai sobre os 20% mais pobres. Estudamos como evoluiu o percentual da renda destinado ao quinto mais pobre da população. Neste gráfico, observamos, em especial após o ano de 2014 e até o segundo trimestre de 2019, uma trajetória de queda na proporção de renda que era apropriada pela metade mais pobre da população.
Estas duas séries indicam que, após o ano de 2014, houve uma inflexão na trajetória de distribuição de renda do trabalho. Ou seja, os trabalhadores mais ricos passaram a deter proporções maiores de toda a renda do trabalho, enquanto os mais pobres viram sua fração da renda diminuir. Portanto, os números indicam um aumento na desigualdade de renda do trabalho no período verificado.