Por Bruno Ottoni, pesquisador do IDados
O ano de 2017 marcou o retorno do crescimento econômico no Brasil. Após a severa recessão que acometeu nosso país entre 2014 e 2016, conseguimos obter pelo menos um pequeno crescimento econômico, de aproximadamente 1% do Produto Interno Bruto (PIB), no último ano.
Apesar de termos observado a volta do crescimento econômico ao longo de 2017, infelizmente o mercado de trabalho continuou se deteriorando durante o ano em questão. Esta resposta defasada do mercado de trabalho à recuperação na atividade econômica não chega a surpreender. O mercado de trabalho costuma reagir com certa defasagem, visto que os empregadores respondem primeiramente aumentando o número de horas trabalhadas para só então voltar a contratar novos funcionários.
Os números contidos na Tabela 1 (abaixo) ajudam a ilustrar a manutenção da tendência de deterioração do mercado de trabalho brasileiro na passagem de 2016 para 2017.
A taxa de desemprego que estava em 11,5% no ano de 2016 passou para 12,5% em 2017. A proporção de informais aumentou de 45,7% para 47,2%. A proporção de subempregados por insuficiência de horas, que são aquelas pessoas que estão insatisfeitas com sua situação atual, pois gostariam de estar em um emprego com uma jornada de trabalho mais extensa, também cresceu, passando de 5,5% para 7,1%. Finalmente, a proporção de desalentados, que são aqueles trabalhadores que desistem de procurar emprego por não estarem encontrando nenhuma oportunidade, aumentou de 3,2% em 2016 para 3,8% em 2017.
Os beneficiários do bolsa família compreendem um grupo mais vulnerável quando comparado à população brasileira como um todo. A maior fragilidade dos inscritos no referido programa fica evidente diante dos números apresentados na Tabela 2 (abaixo). Os dados refletem a difícil situação vivida no mercado de trabalho por esse grupo específico de indivíduos. Enquanto a taxa de desemprego da população brasileira como um todo estava em 11,5% no ano de 2016 (Tabela 1), para os beneficiários do bolsa família ela era, no mesmo período, de 17,2%. Os demais indicadores têm comportamento semelhante, evidenciando, portanto, uma situação de maior fragilidade dos beneficiários do programa bolsa família no mercado de trabalho.
Mais preocupante é observar que os beneficiários do programa bolsa família não apenas apresentam uma situação pior no mercado de trabalho, tanto em 2016 quanto em 2017, mas também têm enfrentado uma deterioração mais intensa da sua condição ao longo dos últimos dois anos. Mais precisamente, a taxa de desemprego da população como um todo aumentou em apenas 1 ponto percentual entre 2016 e 2017 (Tabela 1). Porém, essa mesma variável apresentou, no referido período, um crescimento bem mais expressivo – de 2,7 pontos percentuais – no grupo dos beneficiários do bolsa família (Tabela 2).
Os demais indicadores fornecem evidências semelhantes de uma deterioração mais intensa da situação vivida pelos beneficiários do bolsa família comparativamente à piora observada pela população brasileira como um todo.
Em resumo, infelizmente parece que a deterioração do mercado de trabalho, que já vinha ocorrendo durante a crise econômica, mas que continuou avançando entre os anos de 2016 e 2017, teve um efeito mais nefasto sobre o grupo dos beneficiários do bolsa família do que sobre a população como um todo.