A qualidade do emprego tem sido abordada cada vez menos como um aspecto apenas salarial, e cada vez mais como uma questão multidimensional, ou seja, onde outras características da ocupação possuem papel relevante.
Neste post, avaliamos a proporção de indivíduos em empregos de baixa qualidade a partir de três grupos etários (jovens, adultos e idosos). Para isso, retomamos o cálculo referente ao índice multidimensional de qualidade de emprego com base em Sehnbruch (2020), que desenvolvemos de forma mais detalhada no post “Qualidade do emprego nas Unidades da Federação do Brasil”, utilizando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do segundo trimestre de 2017. A referida pesquisa é produzida e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em suma, o índice permite captar quatro aspectos da ocupação, (i) o salário, (ii) a estabilidade, (iii) a rede de proteção e (iv) as condições de trabalho. Ao mensurar cada característica separadamente com base em determinados critérios, é feita uma média simples entre elas que definirá se estamos falando de um emprego de má qualidade – que aqui chamamos também de vulnerável – ou não. Com isso, é possível calcular a qualidade média dos empregos em nível nacional, algo já feito em um post anterior (ver aqui). Ademais, é viável também focar em alguns recortes específicos. O presente post procura analisar um destes recortes. Mais precisamente, aqui se procura calcular a qualidade do emprego por faixa etária. Os resultados são apresentados na Figura 1.
Como já exposto em um post anterior, para o segundo trimestre de 2017 encontramos uma proporção de 45,5% de ocupações de baixa qualidade no Brasil. A novidade é que, ao olharmos separadamente para o grupo de jovens (24 anos ou menos), observamos que 76,6% trabalham em ocupações vulneráveis, enquanto 40,7% dos adultos (entre 25 e 64 anos) ocupam cargos de baixa qualidade, e apenas 28,9% dos mais idosos (65 anos ou mais) estão em empregos ruins.
Em resumo, mostramos (i) a alta taxa de vulnerabilidade dos jovens no mercado de trabalho, que pode ser explicada pela falta de experiência ou qualificação desses indivíduos, os quais entraram no mercado de trabalho recentemente; (ii) a situação menos vulnerável da população adulta, mais estabelecida na carreira; e (iii) a maior qualidade na composição de emprego dos mais idosos, que, além de normalmente ocuparem um estágio mais avançado na carreira, também têm maior chance de estarem aposentados, ou seja, fora da força de trabalho, sendo que permanecem na ativa justamente os que possuem empregos de maior qualidade.