Queda recente da renda real está sendo “puxada” pelo Nordeste

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Recentemente, o mercado de trabalho brasileiro tem sido afetado por diversos choques negativos como a pandemia da covid-19 e a guerra na Ucrânia, que resultou em grande aumento no preço das commodities. Neste cenário, tem chamado muita atenção a expressiva queda da renda real (medida pela renda real habitual média de todos os trabalhos) auferida pelos trabalhadores do país.

Vamos aos números, obtidos a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período pré-pandemia, trimestre encerrado em março de 2019, a renda real do trabalhador brasileiro estava em R$ 2.748,47 (Gráfico 1). Porém, no último microdado divulgado, referente ao trimestre encerrado em março de 2022, a renda real do trabalhador brasileiro já tinha caído para R$ 2.548,06 (Gráfico 1). Trata-se de uma redução de quase 7,30% em um período de 3 anos.

Essa grande queda recente da renda real tem sido muito debatida. No entanto, quase nada tem sido dito a respeito da evolução, nos últimos anos, da renda real das diferentes regiões do país. Nesse texto, procuramos justamente preencher essa lacuna, visando analisar a evolução recente da renda real, porém focando no recorte por grandes regiões. Para fazer isso, consideramos as seguintes grandes regiões: (i) Norte, (ii) Nordeste, (iii) Sudeste, (iv) Sul e (v) Centro-Oeste.

Na Tabela 1, podemos ver que, no trimestre encerrado em março de 2019, o Nordeste era a região do país com a menor renda real. Especificamente, naquele trimestre, o trabalhador nordestino auferia uma renda de R$ 1.912,49. Enquanto isso, no Centro-Oeste, a região do país com maior renda real no trimestre encerrado em março de 2019, o trabalhador recebia uma renda de R$ 3.112,96. Trata-se de uma enorme disparidade, condizente com a já conhecida elevada desigualdade de renda do país.

A Tabela 1 contém também a renda real das diferentes regiões brasileiras, no trimestre encerrado em março de 2022. Ao olhar esses números, vemos que o Nordeste seguia apresentando a menor renda real, no trimestre encerrado em março de 2022. Naquele momento, a renda real do trabalhador nordestino estava em R$ 1.720,23. Ademais, vemos que, no período em questão, a região Centro-Oeste continuava apresentando a maior renda real. No trimestre encerrado em março de 2022, a renda real do trabalhador da região Centro-Oeste estava em R$ 2.894,01. Note que a diferença de renda real entre a região mais rica, Centro-Oeste, e a região mais pobre, Nordeste, seguia sendo bastante expressiva no trimestre encerrado em março de 2022.

Ainda olhando a Tabela 1, fica evidente que a renda real apresentou queda em todas as regiões do país, na passagem do trimestre encerrado em março de 2019 para o mesmo trimestre de 2022. Porém, a maior queda de renda real, no referido período, ocorreu na região Nordeste, que é justamente a mais pobre. Especificamente, podemos ver na Tabela 1 que a renda real da região Nordeste caiu mais de 10,00%, do trimestre encerrado em março de 2019 para o trimestre terminado em março de 2022.

Em resumo, vemos que existe grande diferença na renda real das regiões brasileiras. O Nordeste é a região com a menor renda real (mais pobre) e o Centro-Oeste é a região com maior renda real (mais rica). Ademais, constatamos que a renda real caiu em todas as regiões brasileiras, na passagem do trimestre encerrado em março de 2019 para o trimestre encerrado em março de 2022. É preocupante verificar, ainda, que a queda da renda real foi maior na região Nordeste, que é a mais pobre.

Talvez a queda da renda real tenha sido mais expressiva no Nordeste por se tratar de uma região com trabalhadores relativamente menos qualificados, que são justamente aqueles que costumam sofrer mais quando o mercado de trabalho passa por períodos turbulentos. Fica a pergunta de porquê a região Norte, que também tem trabalhadores relativamente menos qualificados, não sofreu uma queda de renda semelhante à observada no Nordeste. Talvez o fato de uma elevada proporção dos trabalhadores da região Norte atuarem na administração pública tenha ajudado a protegê-los de uma queda na renda real semelhante à ocorrida no Nordeste.

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