Em um artigo recente neste blog, mostramos que a crise econômica tem afetado mais os menos experientes e os com menores salários (leia aqui). Neste artigo, retomamos o tema para abordar aspectos raciais no mercado de trabalho brasileiro: o grupo composto por pretos, pardos e os indígenas – que já percebe salário médio mais baixo do que o grupo dos brancos e amarelos – também apresenta maior chance de perder emprego.
A Figura 1 abaixo, elaborada com base em dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) refere-se a trabalhadores celetistas que possuem mais de três meses de contrato (ou seja, que já passaram pelo período de experiência). A figura mostra a proporção de trabalhadores brancos e não-brancos com vínculos ativos em 31/12/2015, isto é, trabalhadores que não tiveram seu contrato de trabalho encerrado no ano de referência.
Figura 1 – Porcentagem de trabalhadores celetistas com vínculo ativo em 31/12/2015
Fonte: RAIS 2015. Elaboração IDados. Nota: Brancos: brancos e amarelos. Não-brancos: pretos partos e indígenas.
Cerca de 72% dos brancos que tiveram algum vínculo empregatício em 2015 iniciaram 2016 empregados, mas apenas 67% dos não-brancos fizeram o mesmo. Ou seja, o grupo composto por pretos, pardos e indígenas, além de receber um salário médio mais baixo, também apresenta maior chance de perder o vínculo trabalhista – o que é consistente com a maioria dos estudos sobre o tema.
O cenário não é diferente se o dado for desagregado por escolaridade. Conforme indica a figura, para qualquer categoria, a proporção de brancos que mantiveram seus contratos de trabalho em 2016 é maior. O mais intrigante, no entanto, é que a diferença entre brancos e não-brancos é maior para níveis menores de escolaridade. A diferença para quem tem ensino fundamental incompleto é de 7,5 pontos percentuais, e para quem tem superior completo, de 2,9.
Não há explicação óbvia para isso (talvez brancos menos escolarizados estejam mais alocados em ocupações e/ou setores que foram menos atingidos pela crise), e o tema merece ser mais cuidadosamente estudado. O fato é que a raça, uma característica não associada à produtividade, continua fazendo diferença no mercado de trabalho.