A diferença salarial no mercado de trabalho brasileiro é um assunto constantemente abordado, em especial nos momentos de crise. Neste texto, propomos uma comparação do salário do trabalhador público com o do trabalhador privado. Mais especificamente, comparamos trabalhadores com carteira de trabalho assinada do setor privado e do setor público. Para isso, olhamos os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), em toda a série histórica disponível – do primeiro trimestre de 2012 até o último trimestre de 2020.
Desde o início da série histórica, identificamos uma vantagem explicita do setor público em termos de renda real – a preços do 4º trimestre de 2020. No primeiro trimestre de 2012, início da série, a renda do setor público já era 57% maior do que a do setor privado. Mais precisamente, no início de 2012, a renda média mensal, habitual, do trabalhador público era de R$ 3.437, enquanto a do trabalhador privado era de R$2.190.
Na Figura 1, ilustramos a evolução de um índice com base 100 no início da série histórica da PNADC (primeiro trimestre de 2012). Representamos, ainda, em cinza, os períodos de crise econômica, com base nos dados do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A figura mostra que, além de maior em nível, a renda do setor público também cresceu consideravelmente mais do que a do setor privado durante o período analisado – 20% contra apenas 7% do setor privado. Dessa forma, no último trimestre da série, os rendimentos do setor público se tornaram 76% maiores do que os do setor privado.
Fica claro também na referida Figura 1 que a renda do setor público permaneceu relativamente estável até o final da crise recessiva iniciada em meados de 2014. Porém, após a crise econômica, a renda do setor público passou a crescer fortemente, chegando a um pico no final de 2018 e permanecendo relativamente estável desde então.
Em resumo, percebemos que não apenas a renda real habitual média do setor público é muito maior que a do privado, mas que essa diferença vem aumentando. Isso provavelmente se deve a características do setor público, como correção monetária e ajustes automáticos dos salários, progressão de carreira garantida e maior estabilidade, que não são tão frequentes no setor privado.