Risco energético e variante Delta ameaçam retomada do emprego

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Nesta última sexta-feira (27/08), foram divulgados os dados de saldo do emprego formal do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) correspondentes ao mês de julho. Os resultados apontaram para mais um mês seguido de fortes contratações formais, com geração líquida de 316 mil vagas em julho. Trata-se de um resultado levemente acima da mediana esperada pelos analistas no mês (300 mil).

Já na última terça-feira (31/08), foram divulgados os dados de desemprego pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). A pesquisa apontou para um nível de desemprego de 14,1% no trimestre móvel encerrado em junho. Este número, embora um recorde para o mês quando considerada toda a série retropolada iniciada em 1992, representa uma queda expressiva de 0,5 pontos percentuais em relação ao nível do trimestre móvel anterior (14,6% em maio). O desemprego de junho também representou uma surpresa positiva para os analistas, situando-se abaixo da mediana de projeções esperada para o mês (14,4%). O mês de junho também foi marcado pelo contínuo retorno de trabalhadores para a força de trabalho, elevando a taxa de participação de 57,2% para 57,7% entre março e junho. Este nível, contudo, ainda se encontra aquém dos patamares pré-pandemia (62,1% em junho de 2019).

Alguns fatores de risco, entretanto, podem comprometer a continuidade dessa forte retomada do mercado de trabalho nos próximos trimestres. Dentre os fatores de risco se encontram: 1) O quadro de racionamento energético, que poderá promover níveis de inflação e de juros ainda mais elevados, e gerando um nível de atividade e emprego mais fraco para o final de 2021 e no ano de 2022. 2) As ameaças de uma terceira onda de casos Covid em meio a um quadro de avanço da variante Delta pelo país, o que gera maior incerteza dos agentes econômicos, dados os riscos de adoção de novas medidas de restrições sanitárias.

Estes dois fatores aumentam a dificuldade de projeções para o mercado de trabalho, uma vez que podem pesar de forma significativa na trajetória da atividade econômica. Diante desta dificuldade, estimamos três trajetórias possíveis de desemprego, baseadas em três tipos de cenário: i) Cenário Base, considerando o cenário mediano de projeção de crescimento PIB do Boletim Focus; ii) Cenário Otimista, que considera a previsão mais otimista de PIB do Boletim Focus; iii) Cenário Pessimista, que considera a previsão mais pessimista de PIB do Boletim Focus. A descrição destes três tipos de cenário se encontra na Tabela 1. Estes três cenários gerarão trajetórias distintas do desemprego ao longo de 2021 e 2022 (Gráfico 1).

Por fim, vamos descrever o cenário base. Nesse cenário, esperamos que ocorra um processo de normalização do mercado de trabalho no final de 2021, com o avanço da vacinação, acompanhada por forte crescimento de População Ocupada (PO) e retorno de trabalhadores à População Economicamente Ativa (PEA) a partir do 4º trimestre. Diante deste quadro, projetamos uma queda do desemprego para 12,7% em dezembro de 2021. Para 2022, esperamos, em meio a um cenário de crescimento mediano de 2,0% do PIB, que o desemprego siga em queda, alcançando o nível de 12,2% em dezembro. Contudo, dependendo da confirmação dos riscos energéticos e do prolongamento da pandemia, o desemprego poderá alcançar patamares superiores aos níveis do cenário base, indo a 13,1% e 13,0% em dezembro de 2021 e dezembro de 2022, respectivamente, no cenário pessimista.

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