Por Guilherme Hirata, pesquisador do IDados
Em geral, há mais emoção do que razão nas discussões em torno do investimento em educação no Brasil. Um dos temas que mais geram polêmica é o do salário dos professores. O professor não é valorizado o suficiente? A carreira não atrai bons profissionais? Aumentar o salário melhora a qualidade do ensino? Este é o primeiro de uma série de posts que discutirão o tema dos salários dos professores com base no que dizem os dados.
Entender o que o dado mostra ajuda a qualificar a discussão e evita distorções e uso indevido da informação. Este artigo foca mais no entendimento dos dados do que na análise propriamente dita.
A tabela abaixo foi construída a partir dos dados da RAIS 2016, que fornece dados sobre vínculos empregatícios. Isso significa que um mesmo trabalhador pode aparecer mais de uma vez caso tenha mais de um emprego ou ocupação. Por exemplo, se um trabalhador leciona na rede pública e na rede privada, ele irá aparecer duas vezes na RAIS. A vantagem de ter a informação por vínculo é a possibilidade de identificar a remuneração em cada caso e separar o que se ganha no setor público do que se ganha no setor privado. Isso vale também para quem possui mais de uma matrícula no setor público – é possível verificar qual o salário em cada ocupação exercida nesse setor.
A tabela apresenta o salário médio mensal e o salário-hora médio dos vínculos existentes na RAIS, separados por etapa de ensino. A etapa de ensino foi verificada via Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), também preenchida pelo empregador. Ou seja, para cada vínculo, o empregador deve preencher o salário pago e a ocupação exercida.
Observamos que o salário médio no setor público é sempre maior que o recebido no setor privado, sendo quase o dobro em algumas etapas. No geral, considerando todas as etapas, o salário médio no setor público é cerca de 40% maior.
A diferença no salário médio mensal pode ser reflexo de diferenças no número de horas trabalhadas. Se um professor tem um vínculo no setor privado para trabalhar 10 horas por semana, enquanto outro professor tem contrato de 40 horas de trabalho no setor público, comparar os salários mensais gera distorções. Para levar isso em consideração, a tabela também apresenta o salário-hora do trabalhador, calculado a partir das horas contratuais de trabalho declaradas pelo empregador. Nesse caso, percebe-se que o setor privado paga mais por hora trabalhada no ensino médio, superior e profissional, enquanto o setor público continua com salário mais elevado nas demais etapas de ensino.