Uma das grandes preocupações a respeito dos efeitos da pandemia é com a desigualdade de desempenho escolar. Este é um problema que já existia antes da pandemia e que pode se agravar com ela. Este post analisa a relação entre desempenho e desigualdade entre escolas públicas e mostra que isso vinha mudando ao longo do tempo antes da pandemia.
A figura abaixo foi elaborada a partir dos dados da Prova Brasil de 2009 e 2019 para os anos iniciais. Em cada ano e para cada estado, foram computadas a nota média em matemática das escolas bem como a dispersão dessas notas (via desvio-padrão da nota média): quanto maior o valor da dispersão, mais desiguais são as escolas públicas de um determinado estado.
Em 2009 (em cinza na figura), havia uma correlação positiva entre desempenho (eixo vertical) e dispersão (eixo horizontal), ou seja, estados com maiores médias apresentavam mais desigualdade entre as escolas. Minas Gerais, por exemplo, era o estado com maior média naquele ano e o segundo mais desigual. Já Sergipe estava entre os estados menos desiguais, mas também possuía nota média 40 pontos menor que o estado mineiro.
Dez anos depois (em azul na figura), o desempenho médio aumentou em todos os estados. A dispersão aumentou também, mas em menor magnitude, alterando a relação entre desempenho e desigualdade. Em 2019, praticamente desaparece a relação positiva observada em 2009. Isto é, os estados com melhor desempenho não tendem a ser os mais desiguais.
Apesar disso, chama a atenção os casos de Alagoas, Ceará e Piauí, por exemplo, que obtiveram grandes melhoras em desempenho ao mesmo tempo em que ocorreu aumento da desigualdade entre escolas. Do outro lado, Paraná e Santa Catarina melhoram o desempenho e reduziram ligeiramente a desigualdade. Tal fenômeno merece estudos mais aprofundados, mas isso pode ter relação com o fato de que CE, PI e AL estavam em um patamar de desempenho bem abaixo de PR e SC em 2009.