O governo do estado de São Paulo determinou o retorno ao ensino presencial. Com o avanço da vacinação, outros estados e municípios devem fazer o mesmo nas próximas semanas, se ainda não o fizeram. A questão agora é saber que estratégias serão adotadas para tentar recuperar o nível de ensino no país. Este post discute o agrupamento de alunos por nível de desempenho (tracking).
A ideia básica do tracking é oferecer um ensino mais direcionado aos alunos de acordo com suas capacidades e ritmo de aprendizado. Para isso, é necessário separar os alunos que estão em diferentes estágios de aprendizagem em turmas diferentes. Isso faria sentido no atual contexto pós-quarentena, uma vez que, sem ações coordenadas de estados e municípios, é possível que as diferenças entre alunos tenham aumentado. Nesse sentido, direcionar os estudos para o nível em que se encontra cada aluno pode ser uma opção para retomar o aprendizado mais rapidamente.
Por outro lado, um possível efeito adverso do tracking é a perda do chamado efeito dos pares (peer effect), isto é, a melhora de um aluno a partir da convivência com alunos de melhor desempenho. Ao privar alunos de baixo desempenho do convívio com alunos de desempenho mais alto, o desempenho dos primeiros poderia piorar ainda mais. No entanto, isso poderia ser compensado com a alocação dos melhores professores para alunos com baixo desempenho.
A tabela abaixo mostra que, no Brasil, a prática de tracking não é comum na rede pública. Apenas 8,7% das escolas participantes da Prova Brasil em 2019 adotavam essa estratégia como um dos critérios para formação das turmas. É maior, por exemplo, a porcentagem de escolas que separavam alunos por meio de critérios disciplinares, 10,9%.
Há diversos estudos na literatura acadêmica mostrando que o tracking beneficia tanto os melhores quanto os piores alunos, mesmo em países em desenvolvimento. O cuidado que se deve ter ao adotar a estratégia é não direcionar a maior parte dos recursos para os melhores alunos, sob o risco de prejudicar os de baixo desempenho. Em 2019, pouco mais da metade das escolas alocavam professores mais experientes nas turmas com mais dificuldade de aprendizagem.