A pandemia de 2020 gerou uma corrida aos cofres públicos por parte de diversos grupos de interesse organizados, sejam trabalhadores ou empresários. Um desses grupos é o de servidores públicos. Este post mostra a evolução da parcela da massa de rendimento dos trabalhadores detida pelos empregados do setor público.
A figura abaixo foi elaborada a partir dos dados da Pnad Continua de 2012 a 2019, anos de cobertura da pesquisa. O dado refere-se sempre ao 4º trimestre de cada ano e exclui empregadores.
Observa-se que a parcela dos rendimentos detida pelos servidores públicos vem aumentando ao longo dos anos, principalmente em épocas de recessão ou baixo crescimento econômico. Em 2014, do total recebido pelos trabalhadores brasileiros, 22,5% ficou com os trabalhadores do setor público. Tal porcentagem avançou 1,5 ponto percentual até 2019.
Atualmente, os empregados do setor público representam pouco mais de 13% desses trabalhadores, porcentagem que tem se mantida relativamente estável no período. Como, em média, os empregados do setor público possuem mais escolaridade, é natural que a porcentagem de rendimentos recebida por esse grupo seja maior que a porcentagem representada pelo grupo no total de trabalhadores, já que o mercado remunera mais quem tem mais escolaridade.
No entanto, dois fatores mostram a força de grupos organizados. O primeiro é que a diferença de escolaridade do setor público para os demais trabalhadores apresentou tendência de queda nesse período: de 3,6 para 3,4 anos de escolaridade a mais para o setor público. Isso deveria ter gerado uma tendência contrária à observada na figura. O segundo é que cada ano a mais de escolaridade está associado a um aumento médio de menos de 10% no salário. Isso significa que a porcentagem da remuneração detida pelo setor público deveria estar em torno de 17%. Esses cálculos são baseados em diversas simplificações e devem ser interpretados com cautela.
Em poucas palavras, a tragédia dos comuns é um fenômeno que ocorre quando um bem comum se esgota após todos os perseguirem, ainda que a busca seja racionalmente justificada individualmente. O exemplo clássico é o de um pasto comum disponível aos criadores de gado. Não é difícil perceber que o pasto logo deixará de existir se todos decidirem colocar seus bois nele. A persistir a força dos grupos mais organizados que, durante a pandemia, avançam sobre o orçamento público, este ficará todo comprometido: não haverá dinheiro para servidores nem aposentados nem empresários. Após a Covid-19, viveremos a tragédia dos comuns.