Crise derruba População Ocupada a níveis de 2006

Estudo analisou os dados do CAGED e da PNAD e verificou uma tendência para a retomada do emprego formal, mas também sinalizou para altas taxas de desemprego.

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Os principais indicadores de mercado de trabalho brasileiro têm apresentado importantes contrastes e surpresas em seus resultados. É o que apontam as últimas pesquisas divulgadas nesta semana. De um lado, o saldo de emprego formal registrado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) surpreendeu positivamente, com uma geração líquida de 313 mil vagas em setembro. O saldo do mês repete a sequência de alta verificada nos meses anteriores (131 mil em julho e 249 mil em agosto), em meio ao processo de flexibilização e retomada econômica. Esta tendência de recuperação do emprego formal apresentada nos últimos meses, contudo, não é uniforme entre todos os setores. Enquanto alguns setores já retornaram ao patamar de emprego observado no pré-crise, como Agropecuária e Construção Civil (Gráfico 1), outros têm permanecido relativamente estagnados, como Serviços Tradicionais (fortemente intensiva em empregos de baixa escolaridade, como Alojamento e Alimentação e Transporte).

Os resultados positivos do CAGED divulgados nesta última quinta contrastam com os números de desemprego da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) divulgados nesta última sexta. A pesquisa, divulgada com um mês de defasagem, apontou para uma forte alta na taxa de desemprego de 13,8% para 14,4%, entre o trimestre móvel encerrado em julho e o trimestre móvel encerrado em agosto. Contribuiu para esta forte alta no desemprego a interrupção da queda na taxa de participação na força de trabalho verificada nos meses anteriores. A taxa de participação manteve-se no patamar de 54,7% registrado no trimestre móvel encerrado em julho, o que indica um esgotamento no processo de saída de trabalhadores do mercado de trabalho para a inatividade.

A intensa movimentação de trabalhadores para a inatividade e queda na taxa de participação nos últimos meses foi um dos principais fatores que evitaram um aumento maior do desemprego durante o período de auge da pandemia. Caso a taxa de participação mantivesse o patamar verificado no período pré-pandemia (fevereiro/20), o desemprego observado no trimestre móvel encerrado em agosto teria sido de 24,2%. Os baixos níveis da taxa de participação contribuíram para que a População Ocupada (PO) se situasse a níveis muito inferiores à média observada nos últimos 10 anos. Considerando a série da PNADC iniciada em 1992¹, o nível de PO verificado em agosto representa o menor patamar desde 2006 (gráfico 2).

Esperamos nos próximos meses que ocorra uma reversão desta queda na taxa de participação, com forte retorno de trabalhadores para a procura de emprego, em função da flexibilização da atividade e a retirada gradual do auxílio emergencial, prevista para terminar no final de 2020. Conforme já apontado nos posts anteriores, esta intensificação das movimentações de trabalhadores para a procura de emprego tenderá a elevar o desemprego a patamares recordes no início do ano que vem. Nossas projeções apontam uma taxa de até 17,3% em março de 2021. Contudo, para os trimestres posteriores a março de 2021, espera-se uma queda intensa na taxa de desemprego, podendo alcançar até 13,8% em dezembro do ano que vem, em meio à retomada da atividade esperada em 3,6%, segundo mediana de estimativas da Focus.

Esta forte aceleração do emprego e da atividade econômica prevista para 2021, contudo, não será suficiente para reverter a alta do desemprego no próximo ano. Para o ano de 2021, esperamos que o desemprego alcance em média o patamar de 15,4%, como podemos notar na Tabela 1. Trata-se de um nível muito superior à média de desemprego esperada para 2020, situada em 13,8%.

¹ Para maiores detalhes sobre a metodologia de construção da série retropolada da PNADC 1992-2020, ver em: https://www.anpec.org.br/encontro/2020/submissao/files_I/i13-528215ffc03ae9ceab7e344c48d27626.pd

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