Diferença de desempenho no ENEM entre alunos da rede pública e privada

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Este levantamento analisa a evolução das notas dos alunos da rede pública estadual e da rede privada nas provas objetivas nas últimas dez edições do ENEM (2011 a 2020). A nota utilizada é a média das quatro provas objetivas.

O universo de análise inclui somente alunos do ensino regular e que sejam concluintes do Ensino Médio no ano do exame, além de desconsiderar alunos com nota zero ou ausentes em algum dos exames. Devido ao fato de a nota do ENEM utilizar a TRI (Teoria da Resposta ao Item), as notas das provas objetivas são comparáveis ao longo do tempo.

Com base na Figura 1 (abaixo), é possível extrair duas conclusões principais: a primeira é a estagnação geral do desempenho dos alunos de ambas as redes ao longo do tempo. Em 2011, a média das provas objetivas foi de 474,9 para alunos da rede estadual e 569,6 para alunos da rede privada. Em 2020, esses valores aumentaram para 495,2 e 577,8, respectivamente. Nos dois casos, são variações menores do que 5% no desempenho dos alunos em um intervalo de 10 anos.

Ao longo dos anos, houve oscilações no desempenho, mas fugindo pouco ao padrão de estagnação. O ano de melhor desempenho, tanto para estudantes de escolas estaduais quanto de escolas privadas, foi 2018 (512,5 e 595,2, respectivamente). Em comparação com 2011, isso representou um progresso de 7,9% para os primeiros e 4,5% para os últimos, respectivamente. Porém, nos dois exames mais recentes, o desempenho voltou a piorar.

A segunda conclusão está relacionada à diferença entre estudantes da rede privada e pública. Sabidamente, os primeiros, em média, levam vantagem nas comparações de desempenho. Entretanto, é desejável que essa diferença diminua com o tempo. Entre 2011 e 2020, houve uma tímida redução na diferença entre as médias das duas redes: de 94,7 para 82,6 pontos. Com exceção do ano de 2014, em que os alunos da rede privada tiveram seu pior desempenho e, por conta disso, a diferença foi a menor da série (68,0 pontos), essa diferença sempre esteve entre 80 e 95 pontos. O nível de desigualdade de 2011, contudo, não foi alcançado nos outros anos.

Chama a atenção também o ligeiro aumento da nota da rede estadual em 2020 na comparação com o ano anterior. Uma possível explicação para isso seria a desistência de prestar o exame por parte de alunos que não conseguiram manter seus estudos durante a pandemia. O número total de candidatos que realizaram a prova em pelo menos um dos dias de avaliação caiu de cerca de 3,9 milhões em 2019 para 2,8 milhões em 2020. Se os desistentes forem justamente os de desempenho mais baixo, a nota média tende a aumentar.

O ENEM, como qualquer exame, reflete apenas uma fotografia do desempenho dos alunos e deve ser analisado dentro de um contexto específico. Entretanto, ao comparar as notas das últimas dez edições, o que se observa é uma evolução muito pequena no desempenho médio dos alunos concluintes tanto na rede privada quanto na pública. Tal resultado é preocupante sob a ótica das conhecidas deficiências na formação de capital humano do Brasil, uma vez que, pela ótica do exame, os estudantes não têm demonstrado evolução suficiente ao concluir o ensino médio.

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