Países de regiões com melhor desempenho em avaliações estudantis internacionais como o PISA também tiveram maior crescimento econômico anual médio entre 1960 e 2000

Dados também sugerem não haver relação entre a média de anos de estudo dos alunos e o desempenho deles nos testes internacionais

2016
pisa

Em posts anteriores, parte importante da discussão sobre qualidade do ensino no Brasil e no mundo esteve amparada em avaliações estudantis internacionais, como o PISA. Neste post, utilizando dados de diferentes fontes organizados pelos economistas Eric Hanushek e Ludger Woessmann, discutimos o comportamento do crescimento econômico de países de diferentes regiões ao longo do tempo em paralelo ao desempenho de seus estudantes em diversos testes internacionais.

Os dados da Figura 1 (abaixo) mostram como o crescimento econômico e o desempenho de alunos em testes internacionais (com escores padronizados ao longo do tempo) se comportaram entre 1960 e 2000. A análise inclui dados de quatro das regiões menos desenvolvidas do mundo no início da série – África Subsaariana, Norte da África e Oriente Médio, América Latina e Leste Asiático (sem o Japão).

Nessa amostra, composta por 28 países, os maiores casos de sucesso de desenvolvimento ao longo desse período estão reconhecidamente na última região. Para os países disponíveis de cada região são apresentados: 1) o escore médio padronizado nos testes entre 1960 e 2000; 2) a taxa de crescimento anual média do PIB per capita no mesmo período; e a 3) escolaridade média da população em 1960.

O comportamento das variáveis mostra que, nas regiões em que o desempenho nos testes internacionais foi melhor, o crescimento econômico anual também o foi. No Leste Asiático, o escore padronizado ultrapassou 4,7, e os países da amostra cresceram, em média, 4,6% ao ano no período. Para o Norte da África e Oriente Médio, os resultados foram menos impactantes (escore médio 4,1 e crescimento médio per capita de 2,6%), mas ainda melhores que América Latina e África Subsaariana, as duas regiões que menos cresceram e que possuem escores mais baixos em testes internacionais.

A figura sugere também que quantidade não implica necessariamente qualidade. Os países da América Latina tinham, em 1960, a maior média de anos de estudo entre as regiões analisadas. Contudo, o desempenho em testes internacionais entre 1960 e 2000 foi bastante inferior ao dos países do Leste Asiático e do Oriente Médio. Em termos de crescimento econômico, o resultado médio anual do período foi de apenas 1,8% – valor igual ao dos países da África Subsaariana que fazem parte da amostra.

Os dados contribuem para uma reflexão importante acerca do já conhecido cenário da educação brasileira: a necessidade de políticas que melhorem de forma sustentada a qualidade do ensino e do aprendizado, em que pese o reconhecido avanço que ocorreu em termos de acesso ao ensino e de aumento da escolaridade no país nas três últimas décadas. Tais políticas podem, no médio e longo prazo, ajudar a criar condições para a melhora dos indicadores econômicos. O desempenho recente dos estudantes brasileiros em avaliações como o PISA (57º colocado entre 77 países em 2018) atesta que há um longo caminho até que alcancemos um lugar melhor no ranking internacional.

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