A importância da redação no ENEM

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O ENEM é composto por uma redação e quatros provas objetivas (questões de múltipla escolha): Matemática, Linguagens, Ciências Naturais e Ciências Humanas. Em sua concepção, a ideia era avaliar a qualidade do ensino médio. Atualmente o ENEM é utilizado por boa parte das universidades para selecionar seus ingressantes. Qual o efeito da redação nessa seleção?

Uma forma de análise é comparar duas médias para cada aluno: a média que inclui a redação e a média que exclui a redação. Para comparar as duas, a maneira mais simples é estimar uma medida de associação entre as variáveis, a chamada correlação linear. Esta estatística é um número entre -1 e 1, em que quanto mais próximo de 1 (ou -1) mais associadas estão as duas variáveis.

Por exemplo, a correlação linear entre salário e escolaridade no Brasil está em torno de 0.45. Já correlação linear entre as médias com e sem redação é de 0,96. Ou seja, no geral, praticamente não faz diferença incluir a redação no cálculo da média. É claro que, para um candidato em particular, a média pode aumentar ou diminuir consideravelmente após a inclusão da redação. Mas o que está em discussão aqui não é o efeito para um ou outro indivíduo.

Outra maneira de analisar seria avaliar qual o efeito sobre o ranking dos alunos. Será que o ranking mudaria muito com a exclusão da nota de redação da média dos candidatos? A resposta é não. A figura abaixo mostra a porcentagem de alunos que se manteriam entre um determinado número de primeiros colocados caso a média fosse calculada a partir somente das provas objetivas em vez de incluir a redação também.

Por exemplo, entre os 50 mil primeiros colocados usando a redação (ponto destacado na figura), 69% deles estariam entre os 50 mil primeiros colocados sem usar a nota da redação. O número atinge 80% para os primeiros 300 mil colocados. Novamente, o efeito da redação para um candidato em particular pode ser grande. Porém, considerando que apenas as universidades públicas ofertam mais de 500 mil vagas todos os anos e que essas vagas são majoritariamente preenchidas pelos melhores colocados no ENEM, o efeito da redação parece limitado.

Se cada redação do ENEM for corrigida duas vezes a um valor de R$ 15 cada, o custo da correção da redação atinge cerca de R$ 150 milhões a cada ano. Em 2017, o custo por aluno para a realização do exame foi pouco menos de R$ 90 (leia aqui), o que significa que um terço do custo decorre de uma prova que não altera significativamente o resultado final.

Saber se comunicar por escrito, expor uma ideia em um debate, argumentar ou simplesmente contar uma estória são habilidades fundamentais para grande parte das profissões e ocupações. Chega a ser um paradoxo o fato da escrita – uma habilidade que não é natural ao ser humano, e que, portanto, exige uma transformação física do cérebro das pessoas – ter evoluído tanto desde seu surgimento para ser substituída por emojis do século XXI. No entanto, vale o custo? Vale a pena corrigir a redação de todos os candidatos? Não seria melhor usar o dinheiro para realizar mais de uma edição do ENEM por ano? Queremos mesmo que um vestibular seja o motivo pelo qual praticamos a escrita?

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