Ler para os filhos melhora o desenvolvimento emocional da criança, diz estudo

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Pesquisa inédita feita pela Universidade de Nova York em parceria com o Instituto Alfa e Beto e o IDados, em Boa Vista, foi apresentada nesta quarta, 06, em audiência pública na Câmara Federal, em Brasília

Brasília, 06 de julho – Com a presença do ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, da prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, do prefeito de Petrolina, Julio Lóssio, das primeiras-damas, Ana Estela Haddad, da cidade de São Paulo, e Onélia Leite, do Estado do Ceará, entre outras autoridades, iniciaram-se, nesta manhã, os trabalhos da Audiência Pública da Câmara Federal sobre os desafios da construção de instrumentos para monitoramento do desenvolvimento infantil e políticas públicas, sob a coordenação da deputada Leandre Dal Ponte (PV-PR), da Comissão de Seguridade Social e Família. A audiência integrou as atividades do IV Seminário Internacional do Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016), do Congresso Nacional. A lei trata da promoção do desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos de idade.

Compondo a mesa, o Dr. Alan Mendelsohn – Pediatra e Professor da New York University –  apresentou os indicadores colhidos por pesquisa realizada no âmbito do projeto Família que Acolhe – núcleo da política para Primeira Infância da Prefeitura de Boa Vista –, voltado para prevenir disparidades na prontidão escolar de famílias de baixa renda no município. Sob o título “Prevenindo Disparidades na Prontidão Escolar de Famílias de Baixa Renda”, o estudo evidenciou o impacto positivo do programa de leitura, realizado pelos pais, na linguagem, vocabulário, habilidades metacognitivas e de controle executivo das crianças. Também procurou avaliar mudanças no comportamento dos pais, especialmente na forma de sua interação com suas crianças. Estudos realizados em outros países, notadamente nos Estados Unidos, já haviam detectado o impacto positivo desse treinamento, mas nenhuma análise até agora havia procurado identificar o impacto adicional para crianças que já frequentam uma creche.

Da mesa de debates participaram, também, Vital Didonet, consultor para Assuntos Legislativos da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), Gilvani Granjeiro, da coordenação geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde (Caderneta de Saúde da Criança), Alexandre André dos Santos, diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e Liliana Planel, representante da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Deputados que integraram a quinta turma do grupo de trabalho na área de educação de Harvard, como a coordenadora da mesa, participaram da audiência.

O ministro Osmar Terra registrou ter ficado muito impressionado com os resultados da pesquisa de Boa Vista, fruto da parceria entre a Universidade de Nova York, o Instituto Alfa e Beto (IAB) e o IDados. Por outro lado, reconheceu que Primeira Infância sempre foi um tema caro à trajetória do presidente do Alfa e Beto, João Batista Oliveira – citou, inclusive, o trabalho desenvolvido pelo Instituto com o prefeito Júlio Lóssio, de Petrolina, que qualificou como um dos gestores mais comprometidos com projeto de criação de boas creches.

Mais interação entre pais e filhos

O trabalho em Boa Vista envolveu um programa de treinamento para os pais que são atendidos pelo Família que Acolhe, implementado na capital roraimense há quatro anos – com 1.250 famílias (com crianças de 1 a 4 anos) de baixa renda do município, frequentadoras das Casas-Mãe, locais onde são acolhidas crianças de 2 anos a 3 anos e 11 meses. O treinamento envolveu sessões de uma hora de duração, uma vez a cada três semanas, em um período de nove semanas. Os encontros foram coordenados pela equipe do FQA, com até 30 famílias por grupo.

“As sessões tiveram como principal tema a discussão sobre as experiências e barreiras observadas ao ler para os filhos em casa”, apontou o professor Alan Mendelsohn. Nesses encontros, os pais puderam, também, montar planos de leitura e atividades adicionais para estimular o desenvolvimento dos filhos em casa. Um dos pilares do plano foi um programa semanal de empréstimo de livros, que integram o Guia de Leitura desde o Berço, do Instituto Alfa e Beto, apropriados para crianças das respectivas faixas etárias. A cada semana, as famílias devolvem e retiram dois novos livros.

O estudo foi feito em caráter experimental e randomizado, para testar a eficácia de uma abordagem terapêutica em uma população de pacientes e envolveu 22 unidades das Casas-mãe, com avaliação e monitoramento contínuos. Foram utilizados como parâmetro para o estudo dados socioeconômicos e de risco, o engajamento em programas de parentalidade, a interação pais e filhos e o desenvolvimento da criança e a prontidão escolar.

Resultados expressivos

Segundo Mendelsohn, observou-se um aumento significativo das interações dos pais com os filhos, o que foi avaliado por meio da frequência e qualidade da leitura. Houve também avanços no desenvolvimento das crianças, sob o ponto de vista de linguagem, cognição e sócio-emocional. “Quando pais e mães leem com os filhos, proporcionam uma interação de qualidade, que aumenta o engajamento familiar, além de estimular a produção de vocabulário nas crianças”, explicou o professor, que destacou a importância do estudo para o País. “É importante ampliar o programa para mais regiões, adaptando-o a realidade de cada local”, sugeriu.

Os números apresentados na audiência reiteram os resultados expressivos do estudo:

  • 50% de redução do número de famílias que não liam para os filhos
  • 50% de aumento no número de famílias que passaram a ler com os filhos 3 dias da semana ou mais
  • 50% de aumento na leitura interativa
  • 14% de aumento no vocabulário
  • 27% de aumento na memória de trabalho (uma capacidade permanente, que ajuda no longo prazo)
  • Aumento de 25% de crianças sem problemas de comportamento
  • Maior estimulação cognitiva em casa
  • Menos punição física
  • Maior estimulação fonológica (importante para a alfabetização)

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