Diferença de desempenho em matemática entre meninos e meninas aumenta ao longo das etapas escolares

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A diferença de desempenho em matemática entre meninos e meninas é bem conhecida, com evidências na literatura ao redor do mundo. Neste texto, calculamos essa diferença para o caso do Brasil e observamos a evolução do 5° para o 9° ano do ensino fundamental, e também para o 3° ano do ensino médio. Os dados utilizados são dados da Prova Brasil de 2017 (em 2019, os dados não diferenciam o sexo dos alunos).

Cada barra na figura abaixo representa a diferença de desempenho entre meninos e meninas. Valores positivos indicam quanto em média o desempenho dos meninos é maior que o das meninas. O primeiro conjunto de barras, denominado “Diferença bruta”, mostra, para cada etapa de ensino, a diferença média sem considerar possíveis diferenças de composição entre os grupos. O segundo conjunto mostra a diferença após descontar o efeito da idade dos alunos sobre o desempenho. E o terceiro conjunto desconta, além da idade, outros fatores que costumam ter influência sobre o desempenho, como nível socioeconômico (NSE) e escolaridade da mãe¹.

A primeira coisa a se observar é que os meninos têm melhor desempenho em matemática, independentemente da etapa de ensino, o que condiz com a literatura. Considerando a diferença bruta, a diferença é de 2 pontos no 5º ano do ensino fundamental e aumenta nas etapas seguintes, para pouco menos de 10 pontos no 9º ano do fundamental e no 3º ano do ensino médio. Vale lembrar que um ano de escolaridade equivale aproximadamente a 12 a 15 pontos na escala de pontuação da Prova Brasil.

Caso os grupos (meninos e meninas) apresentem diferentes composições, a diferença bruta pode não ser muito precisa. Se, por exemplo, houver mais repetentes entre os meninos, isso tenderá a aumentar a idade média e a reduzir o desempenho médio em relação às meninas, já que alunos repetentes tendem a ir pior nesses exames. Ao descontar o fator idade, ou seja, ao comparar meninos e meninas de mesma idade, observa-se que a diferença mais que dobra no 5° ano, aumenta 30% no 9° ano e 15% no 3° ano do ensino médio.

Ao descontarmos outros fatores além da idade, nota-se que a diferença entre os gêneros aumenta novamente, mas não se altera tanto. Isso sugere que esses fatores não estão muito relacionados com a diferença de desempenho.

Em resumo, as meninas tendem a ir pior em matemática, mesmo após considerarmos as diferenças de composição entre os grupos nas respectivas etapas de ensino. Isso sugere que há fatores difíceis de observar que atuam ao longo da vida escolar e podem resultar nessas diferenças. Uma hipótese, levantada na literatura e ainda em estudo, é a percepção por parte das meninas de que há poucas mulheres atuando em áreas mais relacionadas à matemática, o que geraria menor interesse pela matéria.

1- Os demais controles adicionados foram: cor, reprovação, rede de ensino, localização da escola e momento de entrada na escola.

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