Os efeitos da crise nas matrículas da rede privada

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Por Guilherme Hirata, pesquisador do IDados

Os economistas chamam de “bem normal” aquele bem cuja demanda aumenta com a renda. A contrapartida seria o chamado “bem inferior”, aquele bem que deixa de ser consumido quando a renda aumenta (o exemplo típico é a carne de segunda). Seria a escola particular um bem normal?

A figura abaixo mostra a porcentagem do total de alunos que estavam matriculados na rede privada entre 2008 e 2017, para cada etapa de ensino (pré-escola, 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio). Entre 2008 e 2014, período de crescimento econômico, o que se observa é um aumento da porcentagem de matrículas na rede privada em todas essas etapas.

A partir de 2014, ano em que os sinais da crise econômica começaram se tornar mais evidentes, há uma mudança. O caso da pré-escola é o mais evidente: a porcentagem de matrículas na rede privada tem queda acentuada até 2017, praticamente retornando ao nível observado em 2008. No ensino médio, também há queda e retorno ao nível de 2008, mas o aumento observado ao longo do período de crescimento foi mais modesto que na pré-escola.

O ensino fundamental destoa das demais etapas, já que após 2014 a porcentagem continua crescendo. No entanto, é evidente a desaceleração ocorrida nos últimos anos. Talvez por serem etapas cujos períodos são mais longos, os pais se esforçam mais para manter seus filhos na escola privada e evitar o desgaste emocional que a mudança de escola poderia provocar. A desaceleração estaria refletindo um efeito retardatário da crise. Os dados de 2018 devem confirmar a estagnação ou mesmo a queda na porcentagem de alunos na rede privada.

Os dados sugerem que famílias que não tinham estabilidade financeira suficiente matricularam seus filhos na rede privada e depois tiveram que retirá-las de lá. As questões que ficam são: 1) Qual a qualidade da escola privada acessível aos alunos provenientes dessas famílias? Rede privada nem sempre significa qualidade; 2) Será que a passagem do aluno pela rede privada compensou o investimento?

Figura 1 – Porcentagem de matrículas na rede privada por etapa de ensino

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Fonte: INEP/Censo Escolar.

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