Qual é o impacto da nota de redação na seleção dos alunos para o Ensino Superior público?

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Por Mariana Leite, pesquisadora do IDados

A prova de redação no ENEM é pouco correlacionada com as provas objetivas e parece selecionar alunos diferentes das outras provas (vide post do dia 09/11/2017).

Correlação é um número que mede a independência entre duas variáveis e varia de -1 a 1. Exemplificando: se a correlação entre duas provas é igual a 1, significa que o primeiro colocado de uma prova é o mesmo primeiro colocado da outra, o segundo também e assim por diante até a última posição. Já se a correlação é -1, temos o oposto: o primeiro colocado de uma prova é o último colocado da outra, o segundo colocado é o penúltimo da outra e assim por diante. Uma correlação igual a zero, ou próxima de zero, indica que não existe regra comum entre as colocações das provas.

A correlação entre o ranking criado pelas provas objetivas e o ranking da redação é 0,59, o que é bastante baixo, pois indica que um bom aluno nas provas de Matemática, Linguagens, Ciências da Natureza e Ciências Humanas não necessariamente é um bom aluno de Redação. A correlação é ainda mais baixa se somente selecionamos as provas de Matemática e Ciências da Natureza (correlação igual a 0,49).

Além disso, existe uma diferença regional entre as provas. As provas objetivas acompanham características regionais – como nível socioeconômico e qualidade das escolas -, ao passo que as notas de redação independem da região. Como é possível ver no Gráfico 1, a distribuição da nota média das provas objetivas difere nas regiões mais ricas e mais pobres do país. Sul e Sudeste apresentam uma distribuição de notas mais à direita do que Norte e Nordeste, indicando que há mais alunos com notas altas nos estados mais ricos. Já a prova de redação tem comportamento diferente (vide Gráfico 2), sem nenhuma diferenciação entre as regiões.

Uma possível causa para esse fenômeno é a correção local das provas de redação. Como as provas são corrigidas por professores da mesma região do aluno – provas do Norte corrigidas somente por professores do Norte e provas do Sudeste corrigidas somente por professores do Sudeste -, pode-se esperar que haja uma variação de critérios entre as regiões. Essa variação parece favorecer os alunos das regiões Norte e Nordeste.

Gráfico 1: Distribuição da nota média das provas objetivas

graf1

Fonte: Microdados ENEM 2015. Elaboração: IDados

 

Gráfico 2: Distribuição da nota da prova de redação

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Fonte: Microdados ENEM 2015. Elaboração: IDados

 

Impacto na seleção dos alunos para a faculdade

Considerando os dados do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), podemos avaliar melhor o impacto da nota de redação na seleção dos alunos para o Ensino Superior público.

A prova de redação tem peso alto na seleção para a faculdade. Na média, para o todo período de 2010 a 2017, a prova de redação representou 21% da nota final de todos os cursos presentes no Sisu. Se todas as provas do ENEM tivessem igual peso, esperaríamos que a redação contemplasse somente 20% da nota.

Mesmo em cursos da área de Exatas, a prova de redação ainda tem um peso relativamente alto. Para cursos das áreas de Ciências, Matemática e Computação, por exemplo, a prova tinha peso médio de 20,1% (Gráfico 3). Somente para as áreas de Agricultura e Veterinária e Engenharia, Produção e Construção, a prova vale menos que 20% da nota final.

O mesmo não ocorre com as notas de Matemática e Ciências Humanas, por exemplo, provas em que há mais diferenciação de peso entre as áreas. Enquanto em cursos de Engenharia a prova de Matemática vale na média 25% da nota final, para as Humanidades e Artes, seu peso é de somente 17,1%. O oposto ocorre com a prova de Ciências Humanas, prova com peso muito maior para Humanidades e Artes (22,2%) e Ciências Sociais (21,7%) do que para Engenharia (somente 15,1%).

 

Gráfico 3: Peso médio das provas de redação, Matemática e Ciências Humanas no Sisu (2010-2017)

Fonte: Pesos Sisu obtidos via e-SIC do MEC. Elaboração: IDados

Pode-se concluir que a prova de redação tem características distintas das outras provas do ENEM, e, dada sua importância na seleção do Sisu, parece estar, por conta dos critérios de correção regional adotados, favorecendo alunos das regiões Norte e Nordeste.

Observação: foi adotada a mesma metodologia de posts anteriores sobre o ENEM, ou seja, foram considerados alunos concluintes do Ensino Médio regular em 2015.

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