Avanço da informalidade impulsiona queda do desemprego

População ocupada informal respondeu por mais de 68% do crescimento trimestral da população ocupada total no mês de julho. Queda do desemprego no 3º trimestre, impulsionada pela informalidade, poderá levar a níveis mais baixos de desemprego no final do 4º trimestre, podendo alcançar 12,2% no cenário base. Estimativa de desemprego médio para 2022 pode variar desde 12,1% no cenário otimista até 13,4% no cenário pessimista

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Desemprego
Businessmen are holding resignation document and packing personal company on brown cardboard box changing work, resign concept

No dia 29 de setembro, foi divulgado o saldo de emprego formal medido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que registrou o patamar de 372,2 mil novas vagas criadas em agosto. O resultado representa o terceiro mês seguido com saldo superior a 300 mil vagas. Ao todo, o saldo CAGED já acumula um total de 2,2 milhões de vagas criadas em 2021.

Já a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada no dia 30/09, alcançou o nível de 13,7% no trimestre móvel encerrado em julho. Trata-se de uma queda de 0,4 pontos percentuais frente ao trimestre móvel encerrado em junho (14,1%). A taxa observada em julho se encontrou abaixo da mediana esperada pelos analistas (13,9%). Contribuiu para esta queda surpreendente no desemprego a aceleração no ritmo de crescimento da População Ocupada (PO), que alcançou a variação trimestral dessazonalizada de 4,1% em julho frente a abril (contra 3,6% na variação trimestral dessazonalizada em junho frente a março).

Este forte crescimento da PO em julho, contudo, se deveu em sua maior parte ao avanço de vínculos empregatícios informais. No gráfico abaixo, decompomos o crescimento trimestral da PO dessazonalizada entre os vínculos formais e informais[1]. O gráfico mostra que a PO Informal respondeu por mais de 68% do crescimento trimestral da PO total no mês de julho (contribuição de 2,8 p.p do crescimento total de 4,1%).

Podemos notar, portanto, uma recuperação da PO puxada predominantemente pela informalidade. Este crescimento do emprego informal vem sendo impulsionado sobretudo pelo retorno ao emprego de trabalhadores ligados a atividades urbanas de serviços. Este setor, em particular, vem apresentando uma recuperação desde o auge da 2ª onda da pandemia no Brasil, entre março e abril deste ano.

Diante destes sinais positivos verificados em serviços nos últimos meses, revisamos nossas projeções de desemprego para 2021, como demonstrado na tabela abaixo. Neste novo cenário, alteramos a nossa tendência esperada do desemprego no 3º trimestre. Especificamente, esperávamos estabilidade do desemprego na passagem do 2º para o 3º tri. Porém, agora projetamos uma queda desse indicador entre o 2º e o 3º trimestre, impulsionada por um crescimento mais intenso da PO informal. Esta queda do desemprego no 3º trimestre, impulsionada pela informalidade, poderá levar a níveis mais baixos de desemprego no final do 4º tri, podendo alcançar 12,2% no cenário base, que considera a mediana das estimativas de crescimento do PIB do Boletim Focus.

Para o ano de 2022, mantemos o quadro de leve retomada do mercado de trabalho no cenário base, podendo o desemprego cair para até 11,6% no 4º trimestre. Este quadro de retomada, contudo, se encontra ameaçado por fortes incertezas econômicas: 1) incertezas quanto às perspectivas inflacionárias, que vêm demonstrando sinais de aceleração no Brasil e no mundo (um quadro inflacionário mais elevado pode vir a comprometer o ritmo de retomada da atividade e do emprego em 2022, em meio a juros mais elevados) e 2) incertezas quanto ao ambiente fiscal brasileiro, com potenciais riscos de não-cumprimento do teto de gastos durante e após as eleições presidenciais de 2022. Um quadro de deterioração fiscal pode vir a agravar ainda mais a espiral inflacionária e os juros.

Estes fatores combinados tornam ainda mais desafiadora a projeção de indicadores de atividade e de mercado de trabalho no ambiente pós-pandemia. Com isso, a estimativa de desemprego médio para 2022 poderá variar desde 12,1% no cenário otimista (baseada na estimativa máxima de atividade das projeções de PIB do Boletim Focus) até 13,4% no cenário pessimista (baseada na estimativa mínima de atividade das projeções de PIB do Boletim Focus). Para o 4º tri/22, as projeções podem variar desde 11,6% no cenário otimista até 12,7% no cenário pessimista.

[1] Vínculos formais são definidos como o total de trabalhadores empregados de setor privado com carteira, trabalhadores domésticos com carteira, trabalhadores do setor público e empregadores, enquanto informais são formados pelo restante da PO.

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