Apesar dos pesares, o Enem tornou-se uma competição e, portanto, pouco importa a nota obtida pelo candidato, desde que ela seja maior que a do concorrente por uma vaga. Este post analisa as chances de alunos da rede pública nesta competição. Os dados referem-se ao período de 2009, quando foi implantada a Teoria de Resposta ao Item para calcular a nota dos alunos, a 2019 – resultados acabam de ser divulgados.
A figura abaixo traz a porcentagem de alunos das redes estaduais e federal que obteve nota média nas quatro disciplinas (não inclui redação) acima da média observada para alunos provenientes da rede privada. A média da rede privada serve com um parâmetro para avaliar o nível dos candidatos. Os dados são válidos apenas para os concluintes de cada ano e excluem alunos que porventura tiraram zero em alguma disciplina.
Observa-se que a porcentagem de alunos competitivos na rede federal é bem mais elevada do que nas redes estaduais, como esperado. Mas, além de representarem menos de 5% dos candidatos, a tendência é de queda: era 60% em 2009 e atingiu 45% em 2019. Para as redes estaduais, a porcentagem varia em torno de 8,5% ao longo dos anos. Ou seja, menos de um em cada 10 alunos de redes estaduais teria condições de competir.
Isso significa que alunos das redes estaduais têm poucas chances? Não, necessariamente. Em muitas universidades públicas existe a política de cotas, o que faz com que alunos da rede pública concorram apenas entre si. Além disso, o número de vagas não é tão baixo quanto parece: em 2018, houve 463 mil ingressos em universidades públicas via processo seletivo, o que equivale a aproximadamente 40% dos candidatos concluintes naquele ano.
Dois fatores que aumentam a competição para parte dos alunos são a concorrência com egressos (aqueles que já se formaram e são maioria entre os candidatos) e o fato de que muitos perseguem as carreiras tradicionais, como Direito e Medicina, para as quais a concorrência é maior.