Segundo dados da UNESCO, no auge da pandemia de covid-19, mais de 90% dos alunos foram afetados no mundo. No Brasil não foi diferente. Estima-se que as mais de 180 mil escolas estejam fechadas, impactando mais de 47 milhões de alunos da educação básica1. Há uma grande preocupação com o abandono escolar devido às paralisações (veja uma revisão da literatura aqui), principalmente quando associado a condições de vulnerabilidade socioeconômica.
Neste levantamento, mostramos a diferença de desempenho dos alunos do 9º ano que já abandonaram alguma vez o ano letivo e os que nunca abandonaram.
De acordo com dados do SAEB 2017, 30% dos alunos do 9º ano que declararam já ter abandonado a escola alguma vez durante o período letivo estavam entre os 20% mais pobres (grupo 1). Esse percentual de alunos decai conforme aumenta o nível socioeconômico, chegando a 13% entre os 20% mais ricos (grupo 5).
A Tabela 1 mostra o desempenho médio dos alunos nas avaliações de Língua Portuguesa e Matemática de acordo com o nível socioeconômico (dividido em cinco grupos), e o fato de já ter ou não abandonado a escola alguma vez.
Os dados mostram que o desempenho dos alunos que já abandonaram o ano letivo alguma vez é pior do que o daqueles que nunca abandonaram, independente do nível socioeconômico.
Outro ponto relevante é que a diferença na nota média dos alunos mais ricos (grupo 5) para os mais pobres (grupo 1) é maior dentre aqueles que nunca abandonaram o ano letivo. Ou seja, o abandono torna mais fraca a relação entre nível socioeconômico e desempenho.
Alunos ricos que abandonaram alguma vez apresentam desempenho similar ao de alunos do grupo 2 (entre os 20 e 40% mais pobres) que nunca abandonaram.
As consequências da pandemia são de difícil previsão, mas os dados mostram que a preocupação com abandono escolar é muito pertinente. Além do prejudicar o desempenho, o abandono pode levar à evasão. Entretanto, enquanto em muitos países as aulas presenciais já voltaram, total ou parcialmente, aqui ainda não há uma estratégia ou planejamento claro por parte das redes de ensino.