Com a crise da covid-19, horas trabalhadas atingem mínima histórica

Dado parece denotar uma determinada relutância das firmas em se desfazer de seus funcionários.

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Os últimos números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o 1º trimestre de 2020, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), ressaltam não só a diminuição do nível de emprego da economia, mas também uma queda abrupta nas horas trabalhadas por aqueles que não perderam o emprego, dadas a diminuição da atividade econômica e as medidas de distanciamento.

Esta queda expressiva das horas trabalhadas pode indicar uma expectativa de retomada por parte dos empregadores que optaram por reduzir a jornada em vez de demitir pessoal durante a crise pandêmica. A Figura 1 indica que a média de horas efetivamente[1] trabalhadas atingiu o menor patamar da série histórica, caindo para 35,7 horas, justamente no 1º trimestre de 2020.

A Figura 2 descreve a variação das horas efetivamente trabalhadas entre o 1º trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2020 entre trabalhadores formais e informais. O gráfico deixa claro que a decaída é “puxada” pela parcela de trabalhadores formais na economia, que sofreram uma queda de 1,5 horas de trabalho em média – 0,6 a mais do que os informais.

O dado acima faz sentido, já que não só os custos de demissão são maiores nos postos formais, como os custos de recontratação induzem o empregador a optar por diminuir as horas trabalhadas em vez de demitir pessoal, a fim de reduzir os custos quando houver uma retomada da atividade. Por outro lado, nos postos informais, a diminuição da atividade se reflete muito mais em demissões do que em diminuição nas horas trabalhadas.

Visto isso, repetimos o exercício da Figura 2 analisando outros recortes como (i) raça e (ii) escolaridade. Como “negros” e “pardos” representaram em 2019 62,5%[2] dos trabalhadores informais, é de se esperar, portanto, que eles estejam menos sujeitos à diminuição de horas do que a demissões, o que explica as quedas relativamente menores, em termos de horas trabalhadas, nesses grupos (Figura 3).

Além disso, a Figura 4 descreve a variação nas horas trabalhadas para diferentes níveis de escolaridade. Como esperado, a queda é maior para os níveis mais altos de escolaridade, chegando a 1,5 horas para o nível superior – 0,5 a mais do que para aqueles sem escolaridade. Isso reflete não só a característica formal do emprego qualificado, mas também o caráter de difícil substituição dos profissionais que ocupam esses postos de trabalho. Ou seja, os efeitos da crise para os sem escolaridade acabam por se refletir mais frequentemente em demissões.

Em resumo, vimos que os últimos dados da PNADC (1º trimestre de 2020) revelam uma grande queda das horas trabalhadas, atingindo o menor patamar histórico da série. Isso, por outro lado, parece também denotar uma determinada relutância das firmas em se desfazer de seus funcionários. Finalmente, constatamos que a queda nas horas trabalhadas foi “puxada” pelos trabalhadores formais, brancos e mais escolarizados.

[1] Horas que foram efetivamente trabalhadas na semana de referência da pesquisa para todos os empregos do indivíduo. Contrapõem-se a horas habitualmente trabalhadas.

[2] Dado retirado da pesquisa anual PNADC (IBGE) de 2019.

 

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